Estimar o valor do dólar em condições normais é uma tarefa complicada. No meio de uma pandemia que levou o mundo à recessão e de uma crise política interna longe de um desfecho, o trabalho se torna ainda mais árduo.
Apesar das incertezas políticas e econômicas, o BC (Banco Central) e alguns analistas de corretoras nacionais já fizeram apostas sobre o valor da moeda norte-americana em 2020.
Enquanto o BC prevê uma desvalorização do dólar ainda neste ano, corretoras como a XP e a Ativa Investimentos acreditam que a moeda estrangeira – vista como reserva mundial – se valorize ainda mais frente ao real.
O que diz o BC sobre a alta do dólar?
O boletim Focus – publicação semanal produzida pelo BC – divulgado nesta segunda-feira (11) estima que a moeda norte-americana feche o ano na casa dos R$ 5. A previsão é a mesma que a da semana passada.
Já em 2021, segundo o boletim, o dólar deve bater a casa dos R$ 4,83. Essa nova estimativa é 1,68% maior do que a divulgada na semana passada pela autarquia federal (R$ 4,75).
O BC chegou a anunciar um novo leilão para tentar conter a escalada descontrolada no dólar, mas a estratégia não tem dado muito resultado. Na manha desta segunda-feira, a moeda estrangeira chegou a R$ 5,80, para depois cair para R$ 5,79.
O que dizem as corretoras sobre a alta do dólar?
Analistas da XP Investimentos afirmaram que o valor da moeda norte-americana pode chegar a R$ 6 neste semestre, influenciado não só pelo coronavírus, mas também pelo corte da taxa básica de juros. No começo deste mês, a Selic foi reduzida para 3%.
“Com a Selic nesses patamares, os juros passaram a ficar menos atrativos para os estrangeiros, que costumam buscar títulos públicos em países com taxas de juros mais altas (que justifiquem o risco mais elevado desses países)”.
Especialistas da corretora, no entanto, disseram que se a economia mundial for retomada de forma sincronizada no segundo semestre, pode ser que o real volte a se valorizar.
O economista-chefe da gestora da Necton, André Perfeito, também falou que o real pode perder ainda mais valor neste semestre, principalmente por causa das incertezas na política brasileira. “O dólar ainda pode testar o patamar de R$ 6 com a crise política”, disse à revista Istoé Dinheiro no final de abril.
O analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, também disse acreditar em uma desvalorização ainda maior do real brasileiro. Segundo ele, esse cenário já é inclusive tratado dentro do governo. “Há uma disfuncionalidade muito grande. O governo recusava o dólar a R$ 5 e hoje já se discute a cotação a R$ 6”, falou à revista Istoé Dinheiro.
Por que o real se desvaloriza mais do que as outras moedas?
Em épocas de crise, investidores costumam buscar ativos mais seguros e com maior liquidez, como é o caso do dólar, “lastreado” na economia mais forte do mundo. Por isso, é normal que moedas de países emergentes fiquem desvalorizadas.
Só que o real, para a tristeza dos brasileiros que dependem da valorização da moeda, foi o que mais perdeu valor frente ao dólar neste ano, na comparação com outras 43 moedas de países emergentes. A informação é do Estadão.
Até o final de abril, a moeda brasileira registrou queda de 36,51%, seguida da do rand sul-africano (-32,27%), do peso mexicano (-27,70%) e do peso colombiano (-20,30%).
O principal motivo para a desvalorização – além da pandemia – é justamente o cenário político nacional, marcado por uma crise institucional entre os poderes legislativo, executivo e judiciário.
Se um processo de impeachment fosse instaurado, segundo especialistas ouvidos pela reportagem do jornal, o real brasileiro poderia afundar ainda mais.