É um negócio “seguro, confiável e disruptivo” que vai “mudar a sua vida”. Foi o que Antônio* ouviu no início deste ano ao investir R$ 52,8 mil – valor de sua rescisão trabalhista – na TreePart, holding que controla a Genbit, exchange que promete lucros de até 15% ao mês em cima de investimentos.
Desde setembro, no entanto, Antônio não recebe os rendimentos da empresa, que é investigada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e responde a centenas de processos judiciais. Além disso, ele continua sem emprego, perdeu o apartamento que havia comprado graças à promessa de lucro da Genbit e está repleto de dívidas.
“Estou desesperado e não consigo nem mais dormir direito”, disse o investidor, que contou sua história ao Livecoins nesta segunda-feira (9), mas pediu para não ter o nome revelado.
A reportagem perguntou à Genbit quando os pagamentos dos clientes serão regularizados. A empresa respondeu que “todos seus débitos estão sendo quitados” e que “tem entrado em contato com os participantes da exchange para esclarecer dúvidas existentes sobre os cronogramas de pagamentos”, mas não estipulou data.
Entenda a história do investidor da Genbit
Antônio foi desligado do antigo trabalho, onde ficou por pouco mais de quatro anos, em janeiro de 2019. Por intermédio de um conhecido, que fazia investimentos na Genbit, resolveu pegar o dinheiro recebido na rescisão trabalhista e depositar na exchange, cuja sede fica em Campinas, em São Paulo.
Ele fez um aporte de R$ 26,4 mil em fevereiro, com a promessa de receber 15% em cima do valor investido – algo em torno de R$ 3,7 mil – no mês seguinte. Como o montante foi depositado corretamente em sua conta, Antônio contou à reportagem que ficou “empolgado” e resolveu investir mais R$ 26,4 mil em março.
No total, Antônio receberia da exchange, em média, cerca de R$ 7,5 mil por mês, que seriam depositados ao longo de três anos, período do contrato formalizado com a exchange. É uma renda alta, bem acima da média salarial do brasileiro, que daria a ele a possibilidade de viver com conforto, investir em outros mercados e pagar suas contas. Mas não deu muito certo.
Investidor da Genbit perdeu o apartamento que comprou
A empresa parou de pagá-lo em setembro. Desde então, a vida do investidor tomou um rumo diferente daquele prometido no início do ano.
Em junho, por exemplo, Antônio adquiriu um apartamento de R$ 220 mil, pagou uma entrada de R$ 30 mil (fruto dos primeiros pagamentos da Genbit) no imóvel e combinou de pagar o restante em parcelas de R$ 3 mil por mês.
“Porém, como deixei de receber os rendimentos, não consegui mais arcar com as prestações e tive que desfazer o negócio, o que me fez perder o valor que dei de entrada e o apartamento que eu tanto sonhava”, disse.
Além de comprar o apartamento, Antônio também investiu em educação e começou duas novas graduações em agosto, que seriam pagas com o lucro prometido pela empresa. Como não recebe faz quatro meses, ele também vai ter que desistir dos cursos, pois não tem mais condições de arcar com as mensalidades, que somam pouco mais de R$ 1 mil.
Para completar, ele não tem mais dinheiro nem para pagar as parcelas do próprio carro, que estão atrasadas faz quatro meses. No início desta semana, o Livecoins contou a história de outro investidor que perdeu um Camaro ao investir em uma empresa que prometia 31% de lucro ao mês.
“Quando entrei no negócio as promessas eram de mudança de vida. Minha vida, no entanto, virou de cabeça para baixo. Deixo meu alerta para que não confiem em qualquer um. Tem muito lobo vestido de ovelha”, falou Antônio, que ainda não achou outro emprego.
Genbit alegou que atraso nos pagamentos era culpa dos bancos
A empresa fez várias promessas de regularização de pagamentos nos últimos meses, mas não cumpriu nenhuma.
Em setembro, quando os atrasos começaram, a Genbit alegou que os atrasos estavam acontecendo por causa dos bancos, que não estariam aceitando as movimentações financeiras da empresa.
Por causa desse suposto problema com a rede bancária, a exchange montou uma fila de pagamentos e informou que pagaria os investidores por ordem. Os valores de Antônio, por exemplo, seriam depositados em novembro. A promessa não foi cumprida.
A empresa informou recentemente aos clientes que faria os pagamentos atrasados com Treep Token, ou TPK, uma moeda própria criada por eles. Como a promessa anterior, essa também não se concretizou.
Empresa responde a mais de 100 ações na Justiça de São Paulo
No início deste mês, Antônio moveu processo pedindo a devolução do dinheiro. Além dele, pelo menos outros 100 investidores entraram com ações contra a empresa só na Justiça de São Paulo. No final de novembro, o valor das causas no judiciário paulista já passava dos R$ 3 milhões, conforme apuração feita na época pelo Livecoins.
No Reclame Aqui, o número de reclamações contra a Genbit chegou a 311, quase o dobro do total registrado no final do mês passado. “Gostaria de saber quando vou receber meu dinheiro”, “empresa de pirâmide, cuidado” são alguns dos comentários na plataforma.
*nome fictício