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Proibida na Espanha, Kripto Future usa nome da Binance e de Elon Musk para captar investidores no Brasil

A parceria com a Binance mencionada no canal da Kripto Future foi desmentida pela exchange multinacional.

Com promessa de rentabilidade de 3% diário, uso de criptomoeda própria e uso de imagem da Binance e até de Elon Musk, o projeto Kripto Future aparenta ser um bom negócio, mas a realidade é outra.

A empresa não possui autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já foi proibida de captar investidores na Espanha e a Binance nega qualquer envolvimento com o projeto.

No canal oficial no Youtube, a empresa de Marketing Multinível se apresenta como uma multinacional de sucesso sediada na Inglaterra e que estaria a revolucionar o mercado financeiro com o lançamento de sua criptomoeda Kriptocoin.

A Kripto Future afirma ainda, na descrição do vídeo, que seria “do grupo empresarial Rede Mundial Philip Han” e teria parceria com a empresa aeroespacial Codycross, do bilionário Elon Musk.

https://www.youtube.com/watch?v=d-1UNKAO-d0

No mesmo vídeo, a empresa afirma que 100% dos investimentos são feitos em negociações com criptomoedas e que eles atuam 24 horas por dia e garantem lucros diários de até 3% ao dia. Os interessados teriam apenas que investir pelo menos US$ 50. 

A empresa ainda criou um sistema pelo qual promete 6% sobre o investimento feito por novos clientes indicados. 

Jeffer Ribera, CEO da empresa, num de seus vídeos explica que necessita de Marketing Multinivel para se criar uma comunidade com 500 mil pessoas em seis meses para capitalizar US$ 10 bilhões.

A questão nesse ponto é saber como isso se sustentará e por quanto tempo.

https://www.youtube.com/watch?v=PeqMvMmEKlg

Kripto Future proibida na Espanha

Além das promessas irreais de ganhos certos vale apontar que a empresa não apresenta um produto sequer. O que há é o resultado de rendimentos advindos de negociações com criptomoedas feito por terceiros, o que pode ser interpretado como Contrato de Investimento Coletivo, espécie de Valor Mobiliário.

Nessa parte do material, a empresa deixa claro que os rendimentos vem a partir dos esforços de terceiros

Para esse tipo de oferta pública no Brasil, portanto, a empresa de investimento precisa ter registro ou dispensa da CVM, nos termos da Lei nº 6.385/76, pouco importando se ela é de fora do país. 

O mesmo ocorre em alguns países e por essa razão, no dia 26 do último mês, a Comisión Nacional Del Mercado de Valores – CNVM (equivalente à CVM) soltou um alerta aos investidores e proibiu a atuação da Kripto Future na Espanha.

Suspeita de golpe

De acordo com informações do Behind MLM, o projeto não passaria de uma velha fraude conhecida como esquema Ponzi. O site especializado em denúncias de golpistas aponta que diferentemente do anunciado, a empresa não tem sede na Inglaterra, mas em Dubai e que Jeffer Ribera seria apenas um personagem.

Além de Jeffer, a empresa aparece representada por Rinat Imashev e Maxim Kolynyak. Não faltam fotos dos dois com Jeffer nas redes sociais. Numa das publicações a dupla afirma que decidiram dar aos associados muitos prêmios, como se eles tivessem algum tipo de autonomia. 

Numa das publicações no instagram de Rinat Ismashev, Jeffer Ribera é apresentado como co-fundador da empresa. No próprio material produzido pelo projeto sequer menciona o nome Ribera. Ao invés disso, consta tão somente o nome de Mohammed Al Aiyasha como o idealizador do projeto.

A questão é que no site oficial não há qualquer informação sobre o registro da empresa e quem, de fato, está por trás dela. Há menção aos nomes de Tommy Lewis como o diretor da Kripto Future e Ryan Wright, como diretor de tecnologia, mas fora do ambiente ligado à empresa não existe coisa alguma sobre essas duas pessoas.

A empresa afirma que Ryan Wright trabalha com Elon Musk, mas o Wright relacionado a empresa Tesla é outro e se chama Ian Wright que nada tem a ver com a Kripto Future.

Falta de clareza

Os vídeos divulgados no canal oficial são muitos, mas nada que demonstre a transparência do negócio e os riscos envolvidos inerentes no próprio mercado de criptomoedas.

Não há também qualquer informação sobre onde a criptomoeda Kriptocoin está listada. No site consta apenas que a Kriptocoin foi lançada em maio deste ano e que em agosto ela estará listada entre as cinco maiores exchanges do mundo. 

No material de divulgação, porém, a única criptomoeda mencionada é o Bitcoin, o qual pode ser usado para comprar os pacotes anunciados. A Kripto Future promete, porém, pagar os rendimentos também em Bitcoin. 

Falsos parceiros

Os idealizadores do projeto são apresentados como amigos de Elon Musk mas não há uma foto sequer do bilionário com qualquer um dos envolvidos com a Kripto Future ou qualquer outro elemento que comprove essa suposta amizade. Isso, provavelmente, não seria problema para Musk que apoia abertamente a criptomoeda Dogecoin.

Elon Musk Kripto Future
Elon Musk Kripto Future
Elon Musk Kripto Future
Binance citada em vídeo da Kripto Future

A parceria com a Binance mencionada no canal da Kripto Future foi desmentida pela exchange multinacional que em nota à Livecoins afirmou:

“A Binance não está de forma alguma associada à Kripto Future e tomará as medidas legais cabíveis para prevenir o uso indevido de sua marca.

A Binance aconselha a todos que estudem e pesquisem os produtos financeiros, a idoneidade das empresas envolvidas e a fundação dos projetos antes de decidirem pelo investimento. Se algo parece bom demais para ser verdade, geralmente não é como parece”.

Já na relação da Kripto Future com Philip Han só há um post feito em 2019 por Imashev sobre um evento promovido pela F2 Trading (uma das empresas de Han).

Philip Han ganhou fama após o escândalo envolvendo a FX Trading, empresa proibida pela CVM de atuar no Brasil. Depois da proibição e de suspeitas de fraude, Han acabou abrindo a F2 Trading, a qual também deixou de pagar seus investidores

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Alexandre Antunes
Alexandre Antunes
Advogado e jornalista. Mestre em Direito Constitucional pelo PPGDC UFF. Pesquisador e professor visitante do Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Direito Administrativo Contemporâneo (GDAC).

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