A Unick Forex, investigada por crimes como organização criminosa e lavagem de dinheiro, captou R$ 29 bilhões de 1,5 milhão de pessoas, segundo a Polícia Federal. O paradeiro dessa bolada, no entanto, continua um mistério.
No final de janeiro, por exemplo, na decisão que manteve a prisão preventiva do presidente da Unick, Leidimar Lopes, a Justiça informou que não encontrou nenhum centavo desse valor na conta dele ou mesmo da empresa.
“Saliento ainda que não foram encontrados quaisquer valores para bloqueio em nome de Leidimar Bernando Lopes ou em nome da empresa Unick Sociedade de investimentos LTDA (…), a reforçar a suspeita de ocultação de valores em nome de terceiros”, diz trecho do despacho.
De acordo com o documento, a investigação “está bem longe de atingir” os valores ocultados pela empresa gaúcha, que tinha sede no município de São Leopoldo.
Onde está o dinheiro captado de forma ilegal pela Unick Forex?
De acordo com a decisão, há “veementes indícios” de que Leidimar Lopes mantém parte desses recursos no exterior, em moeda corrente ou em criptomoedas. Por esses valores não estarem no Brasil, portanto, não seriam atingidos pelas medidas de bloqueio e apreensão de bens.
No final do ano passado, o Diário de Canoas afirmou em reportagem que uma das rotas do dinheiro captado de forma ilegal pela empresa seria Mônaco, na Europa. Por lá, o recurso teria sido usado para comprar iates de luxo.
Outros possíveis destinos para parte do montante bilionário, que é maior que o PIB do estado do Amapá, seriam Luxemburgo, também na Europa, e Belize, no Panamá.
Advogado da empresa contribuiu para envio de dinheiro ao exterior
Segundo a Justiça, um dos membros da suposta organização criminosa que teria atuado para administrar contas bancárias não declaradas no exterior seria o advogado Fernando Baum Salomon.
Conforme apurado pela investigação, Salomon “teria contribuído de forma relevante com a operacionalização dos atos de lavagem de dinheiro pela organização criminosa, sobre o qual recaem fortes indícios de que seja ou tenha sido representante de empresa estrangeira e de que possua e/ou administre contas bancárias não declaradas o exterior, o que facilita a ocultação dos valores amealhados por meio de atividade ilícita”, diz trecho.
Dinheiro captado pela Unick pode estar em nome de terceiros
A investigação também apura se Leidimar Lopes e outros membros teriam colocado parte dos recursos em nome de terceiros, prática comum em casos de lavagem de dinheiro.
Em outubro, o Livecoins noticiou que a Polícia Federal acreditava que Fernando Lusvarghi (ex-diretor jurídico da Unick Forex), por exemplo, teria repassado bens dele e da Unick Forex para a sua esposa, Isabel Cristina do Prado Lusvarghi.
Na época, a PF informou que constatou a prática ao verificar diálogos captados durante a investigação.
Leidimar continua preso, mas Danter está solto
Leidimar Lopes continua preso na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan). Em janeiro, na decisão em que a Justiça recusou o pedido de liberdade provisória feito pela defesa dele, o poder judiciário entendeu que sua liberdade poderia atrapalhar a investigação, visto que livre Lopes poderia “seguir captando valores de forma dissimulada”.
Além disso, segundo a decisão, a eventual prática de evasão de divisas e lavagem de dinheiro ainda não foi totalmente esclarecida. Em liberdade, portanto, Lopes poderia atrapalhar a apuração das práticas criminosas e continuar a “ocultar o patrimônio”.
No entanto, no mesmo despacho a Justiça determinou a liberdade provisória de Danter Navar da Silva – que era o responsável pelo marketing da Unick Forex – e de outros dois membros. Segundo o documento, o marketeiro do negócio, que teve que pagar R$ 200 mil para deixar a prisão, tinha menor “protagonismo” no esquema.