Uma organização criminosa que causou um prejuízo de R$ 60 milhões para cerca de R$ 1.500 investidores por meio de uma pirâmide financeira com bitcoin foi desmantelada em uma operação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
A operação “Black Monday” foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (25) com apoio de forças de Justiça e policiais de doze Estados. Foram presas seis pessoas e foram cumpridos 57 mandados de busca e apreensão, inclusive com apreensão de criptoativos.
A quadrilha atuava em 12 Estados brasileiros, sendo eles: Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, São Paulo, Paraíba, Bahia, Alagoas, Maranhão, Rondônia, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. De acordo com o promotor de justiça Eduardo de Paula Machado, a quadrilha usava os sites “Aprenda Investindo” e “Investing Brasil” para atrair as vítimas com a promessa que iria ensiná-las a fazer investimentos em bitcoins e prometiam lucros altos.
“As pessoas acessavam esses sites, realizavam cadastros e pessoas que trabalhavam para a organização criminosa, já se apresentavam como funcionárias de corretoras de fachada, segundo investigação até o momento. Nesse momento, supostos analistas financeiros vendiam pacotes de investimentos, a exemplo, essencialmente, investimentos na bolsa de Nova Iorque, contudo, valores das vítimas eram transferidos para contas de pessoas jurídicas no Brasil e nunca eram aplicados no produto prometido. As vítimas eram levadas a creer que realizavam investimentos financeiros, quando, na verdade, os valores eram levados até o topo da pirâmide da organização criminosa, e convertidos em criptoativos e permitiam a aquisição de um patrimônio bastante volumoso”, relatou o promotor.
As corretoras citadas por ele são a “VLOM” e “LBLV”, esta última, inclusive, tem o jogador Ronaldinho Gaúcho como garoto propaganda. Segundo o promotor, as investigações indicam que as corretoras são de fachada, mas as apurações vão prosseguir.
“De acordo com as investigações, até o momento os indícios são fortes de que não haveria qualquer investimento financeiro por parte dessas corretoras. As investigações continuam e, hoje, além do cumprimento de mandados, houve esforço coletivo para localizar e identificar testemunhas e outras pessoas investigadas às quais serão ouvidas nos próximos dias.
Foram apreendidos quatro veículos de alto luxo cujo valor total supera R$ 3,5 milhões, dinheiro vivo que chega à casa de R$ 500 mil, houve apreensão de criptoativos, porém, ainda não mensurado o valor”, destacou o promotor.
Vítimas eram principalmente idosos sem conhecimento de mercado financeiro
De acordo com o MP, as vítimas eram pessoas que não entendiam de investimentos em bitcoins, sendo, muitas delas, pessoas idosas. Todas tiveram perdas de valores muito altos, segundo as investigações.
A primeira denúncia, que resultou no inquérito, partiu de uma pessoa idosa que mora em Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais. Essa vítima perdeu todas as economias guardadas ao logo de toda a vida.
“O que acontecia aqui era que os investigados se aproveitavam de desconhecimento das vítimas tanto em ramos de investimento, quanto em criptoativos para angariar fundos e utilizá-lo de maneira indevida. Esse ecossistema de criptoativos não configura crime, as pessoas podem comprar, podem vender, o que ocorre, infelizmente, é que indivíduos capciosos, maliciosos, aproveitam-se de desconhecimento da vítima para angariar fundos, prometendo lucros impossíveis”, explicou o delegado de Polícia Civil de Goiás, Vytatuas Zumas.
Divisor de águas no combate ao crime de pirâmide financeira
Os membros da operação a consideram um divisor de águas para esse tipo de golpe. “O que foi criado nessa operação será o norte de outras investigações sobre pirâmides financeiras que estão se avolumando em todas as outras comarcas”, analisa o promotor Richard Gantus Encinas.
O também promotor de Justiça Mauro da Fonseca Ellovitch destaca que essa operação demonstra que o mercado de criptoativos é passível de fiscalização por órgãos estatais. “A operação de hoje demonstrou que os Ministérios Públicos estão se preparando e caminhando com a evolução desse mercado para reprimir ilicitudes e garantir que eventuais crimes que utilizem essa nova ferramenta tenham a resposta estatal adequada”.
“Hoje em dia nós vemos uma transformação muito veloz de uma economia tradicional para uma economia digital, uma criptoeconomia. Se enganam aqueles que acreditam que podem transferir valores obtidos de forma ilícita em criptoativos, hoje o mais conhecido, o bitcoin. Esse esforço coletivo nos permitiu hoje de maneira bastante inédita essa apreensão e custódia de criptoativos, é uma dimensão que se tem no combate à criminalidade organizada, em especial a lavagem de dinheiro”, complementa o promotor Eduardo de Paula Machado.
Ao todo participaram da operação 26 promotores de Justiça, 42 servidores do MP, 20 delegados e 91 agentes da Polícia Civil, dois peritos, nove policiais rodoviários federais e 30 policiais militares. A reportagem tentou contato com a corretora VLOM e LBLV, mas o número disponibilizados nos sites são inexistentes. Caso elas queiram se pronunciar o posicionamento será incluido na reportagem.