O real brasileiro lidera um ranking um tanto quanto vergonhoso: o das piores moedas do mundo. Desde janeiro, a desvalorização do real frente ao dólar foi de -32%, segundo o Financial Times. É a maior queda registrada neste ano.
E esse cenário – que já é desastroso – pode ficar ainda pior, de acordo com analistas ouvidos pelo jornal inglês. Um dos principais motivos para isso, disseram eles, é a forma como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem lidando com o coronavírus.
“O tratamento dado pelo chefe da nação brasileira à pandemia não aumentou a confiança. Além disso, o país tem altos riscos políticos, enquanto que as taxas de juros agora são muito baixas”, disse o gerente de portfólio do DWS Group, Xueming Song, à publicação.
Vale lembrar que, desde o início da pandemia, Bolsonaro vem atuando de forma contrária às recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), inclusive gerando aglomerações.
Na terça-feira (19) – dia em que o país ultrapassou a marca de 1.000 mortes em 24 horas – ele fez até uma piada dizendo que “quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma Tubaína”.
País tomou uma rasteira, diz especialista
A reportagem do Financial Times lembrou que, até o final de 2019, a moeda brasileira era uma das apostas de 2020. Esse otimismo todo era devido às reformas propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao crescimento de 2% esperado para o país.
Seis meses depois, no entanto, tudo veio abaixo. Guedes perdeu a liderança, o presidente da república virou alvo de pedidos de impeachment e o Brasil ganhou o posto de terceiro país do mundo com maior número de infectados pela Covid-19.
Instituições financeiras, que no início do ano previam valorização da moeda, agora estimam que US$ 1 poderá chegar a R$ 6 até o final do ano. “A história do Brasil recebeu uma enorme rasteira”, disse o estrategista do Citi, Luis Costa, ao jornal inglês.
Controle de qualidade no Brasil me deixa nervoso, diz especialista
O jornal também citou que até o início do ano passado, apesar da instabilidade política no país, os investidores estrangeiros ainda apostavam no real por causa da taxa de juros, que era de 6%. O BC (Banco Central), no entanto, cortou a Selic pela metade.
A queda dos juros – somada à pandemia e às ingerências políticas – ajudou a afastar os investidores internacionais e abalou ainda mais a confiança na moeda brasileira, segundo o gerente de portfólio da Robeco, Wim-Hein Pals.
“O controle de qualidade no Brasil me deixa um pouco nervoso porque o país não tem o melhor histórico de gerenciamento da inflação”, disse ele ao Financial Times.
Esse receio internacional com relação à economia brasileira pode ser verificado por meio do risco-país, indicador que mede o medo do mercado. Em 2020, o risco-país triplicou, passando de 106 pontos no início do ano para 341 pontos em maio – um dos maiores entre os países emergentes.