Fala de CEO do Atlas Quantum indica falta de caixa para pagar investidores

Durante toda a live, Marques se contradisse várias vezes ao tentar explicar tanto a ideia da corretora interna como os modos pelos quais a empresa pretende pagar os investidores.

Em uma live fechada para alguns investidores realizada nesta quarta (16/9), Rodrigo Marques, CEO da empresa de arbitragem Atlas Quantum, anunciou que vai usar as “forças do mercado” para pagar as dívidas da empresa.

Embora tenha sido bastante evasivo tanto nas suas falas quanto nas respostas dadas na live, o que ele deu a entender é que as pessoas poderão vender e comprar Bitcoin dentro da plataforma Atlas Quantum, o que, em seu entender, evitaria o movimento de saque generalizado em que se encontra a empresa.

“Então ‘forças de mercado’ vão atuar dentro da nossa plataforma, pessoas comprando e pessoas vendendo e esse volume vai ser possível ser sacado em reais”, afirmou.

Início da crise

Só relembrando o caso, o Atlas Quantum é um serviço de arbitragem de criptomoedas, que existe desde 2017 e oferece um rendimento mensal próximo de 4% para as pessoas que deixam com ele seus bitcoins.

Sua crise atual começou em agosto deste ano, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) emitiu comunicado proibindo a empresa de oferecer serviços no Brasil. Isso provocou uma corrida de investidores pedindo saque na plataforma, e a empresa não conseguiu pagar a todos, começando a atrasar e não conseguindo explicar objetivamente à comunidade os motivos desses atrasos.

Mais perguntas do que respostas

Infelizmente, a fala do CEO só convenceu mesmo quem já estava convencido da idoneidade da empresa. No caso, o próprio CEO, Rodrigo Marques, insistiu que é um desses que creem e afirmou:

Acredito muito nesse projeto. Todo o meu capital tá investido dentro da empresa, também sou cliente do Quantum, não pedi saque e não vou pedir saque e tenho certeza que vamos atravessar esse momento de crise.

Para quem não é o dono da empresa, deve ser duro ouvir uma fala como essas, que compara ele mesmo, um sócio-administrador e CEO da empresa, com um investidor comum que coloca suas economias e confia numa empresa.

Contradições

Durante toda a live, Marques se contradisse várias vezes ao tentar explicar tanto a ideia da corretora interna como os modos pelos quais a empresa pretende pagar os investidores.

Entre as contradições mais gritantes, destacamos as seguintes:

1º buraco: saques em reais.

Marques disse que a plataforma vai liberar o saque em reais na próxima segunda (dia 21) e que isso deve resolver “de 80% a 90% dos pedidos de saques”. Mas, se a empresa tem dinheiro para pagar essa quantidade de investidores, por que não compra bitcoins e paga a todos? Um investidor perguntou isso e resposta foi evasiva, mas deixa claro que a empresa não tem dinheiro pra isso:

A gente tentou fazer a aquisição de bitcoins em OTC para pagar os clientes, principalmente no começo dessa crise que a gente viveu, mas ficou claro que a nossa capacidade e compra não era suficiente para atender a demanda.

Por “falta de capacidade de compra” não dá para entender outra coisa senão “falta de dinheiro em caixa”. Sabemos que o a empresa diz que o dinheiro está preso nas exchanges. Mas, então, por que dizer que vai conseguir pagar?

2º buraco: corretora quântica.

A ideia de usar “forças de mercado” para pagar os investidores, ou seja, criar uma corretora dentro da plataforma, não condiz com uma empresa que diz que vai resolver 90% dos saques. Para que seria a corretora? Para os 10% que sobrariam? Não seria por isso, já que o CEO analisa, na live, também que esses 10% deveriam ser de “pessoas que prefeririam receber em bitcoins”.

A resposta parece ser que, com a corretora, a empresa espera que muita gente desista de seus saques, tentando vender seus BTCs na plataforma mesmo. E talvez faça seus saques em reais. Parece confuso mesmo. E é.

3º buraco: baixa quantidade de ingênuos no mercado.

Para a tal corretora funcionar, quem comprar na plataforma tem que pagar mais barato no Bitcoin, ou, do contrário, quem entraria com dinheiro limpo numa plataforma em crise? Ou seja, quem tem Bitcoin na empresa e tentar converter em reais com certeza já vai ter que vender mais barato que no mercado, ou não vai conseguir vender.

É dessa ideia que o mercado já cunhou um nome para esses BTCs presos no Atlas: “BitAtlas”, ou seja, uma moeda que só é negociada dentro da plataforma. Qualquer semelhança com o “BitCráudio”, da moribunda NegocieCoins, não é mera coincidência (e olha que coincidência começa com “coin”).

4º buraco: deságio na corretora e nos saques.

Um dos investidores presentes na live perguntou sobre aquelas pessoas que solicitaram seu saque quando o Bitcoin estava com valor maior e não receberam até agora, se a plataforma pagaria o deságil. A resposta foi péssima:

É difícil prever como o mercado vai reagir, mas, de uma forma mais genérica, a gente espera que a gente seja arbitrado, ao longo desse processo e a diferença de preço […] seja a menor possível.

A resposta subentende que, sim, o preço vai ser mais barato que no mercado. Em outra resposta, ele além de confirmar o deságil, o CEO diz que haverá limites de negociação na plataforma, o que torna o sistema ainda mais temeroso:

A gente não quer uma queda abrupta de preços, quer que o nosso preço fique tão próximo possível do restante do mercado, e uma das possíveis ferramentas que podem ser utilizadas é uma limitação na quantidade de bitcoins que podem ser trocados por real ou um limite no saque em reais. Independente que tenha essa limitação nos dos primeiros dias, nosso objetivo é que essa limitação não exista e que muito rapidamente as pessoas possam negociar quanto elas quiserem.

5º buraco: tem ordem cronológica, não.

Perguntado se a empresa irá estabelecer uma ordem cronológica de pagamento dos saques solicitados, o CEO diz que não é necessária, depois se contradiz:

Não vai ser necessário uma ordem cronológica de pagamento. Claro que vão ter filas internas que vão acontecer.

O que talvez ele quisesse dizer é que a empresa não vai tornar pública uma ordem de pagamentos, embora tenha uma ordem interna. Decisão péssima para uma empresa que, entre outras questões, está nessa crise por falta de transparência.

É claro que uma ordem pública de pagamentos é mais fácil de acompanhar e proíbe que a empresa mesmo “fure a fila”, pagando quem bem entender e usando o próprio pagamento como um meio de diminuir o barulho das pessoas que colocam mais a boca no trombone ou que tenham mais poder para influenciar a empresa.

CVM e outras questões “menores”

A live foi bastante longa e repetitiva, mas o CEO conseguiu dar algumas outras informações que podem interessar ao mercado:

Empresa espera ter liberação da CVM.

Segundo Marques, a empresa entrou com “pedido de dispensa de registro, há cerca de um mês, da oferta pública de arbitragem”. A empresa já teria recebido a primeira devolutiva e estaria trabalhando nas informações pedidas pela CVM para a continuidade do processo. Em tese, se ela conseguir a liberação, poderia voltar a oferecer seus serviços no Brasil.

Informações sobre saques em reais.

“Segunda-feira [dia 21] vamos ter informações completas e as pessoas vão entender como funciona”, afirmou o CEO.

Compra da Anubis.

Segundo Marques, trata-se de uma aquisição estratégica do Atlas Quantum, pois o Anubis era o “principal competidor no nosso mercado nacional”. Ele afirma que a compra seria um complemento para ambas as empresas.

Anúncio com vídeo fake.

Marques respondeu também sobre a acusação, feita pelas exchanges Gate.io e HitBTC, de que um comunicado divulgado pelo Atlas Quantum teria trazido imagens falsas da plataforma das duas empresas. A resposta joga a culpa para as próprias exchanges:

A gente também foi surpreendido porque estávamos no meio de negociações com essas parceiras para liberação dos saldos. E de repente veio o tuíte de uma e da outra. A plataforma desses parceiros tem apresentado algumas alterações de comportamento, e isso foi refletido nos vídeos, mas eu quero reforçar que o saldo é auditado e vai continuar sendo auditado, e a gente entende que essa auditoria é que realmente comprova a existência dos saldos.

Infelizmente, para os clientes e o mercado, com tantas contradições e arabescos, a situação do Atlas parece mais do que nebulosa. Se é que existe uma chance de reerguida da empresa, esta seria o pagamento de todos os saques solicitados, e não a divulgação de novas e criativas maneiras de manter preso o dinheiro dos investidores.

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Sui Teixeira
Sui Teixeira
Sui Teixeira é jornalista desde 2001, formada pela USP. Trabalha ainda como produtora de jingles, é programadora amadora e entusiasta de ciência e tecnologia.

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