Fim da LocalBitcoins deve impactar pouco na Venezuela, diz executivo

Co-fundador de El Dorado P2P opina que o "inverno cripto" não foi o único motivo que levou a LocalBitcoins fechar as portas.

O mercado de criptomoedas da América do Sul se preocupou com o fim da corretora P2P LocalBitcoins, que operava em vários países da região, principalmente Venezuela e Colômbia, além de Brasil e Argentina.

Contudo, em conversa com o Livecoins, outra plataforma P2P da região indica que a saída da LocalBitcoins do mercado era esperada.

Isso porque, o volume de operações na corretora vinha diminuindo consideravelmente, alega Guillermo Goncalvez, CEO da El Dorado. A plataforma apresenta as stablecoins para residentes da América do Sul, chegando ao Brasil em 2023.

Quais os motivos levaram a LocalBitcoins ao fim? Binance pode ter “culpa”

Com sede na Finlândia, a LocalBitcoins declarou que o “inverno cripto” foi o motivo da decisão de encerrar suas atividades globais, mas o competidor El Dorado P2P aposta que outros motivos podem ter causado o evento.

De acordo com dados do próprio LocalBitcoins, os principais mercados da corretora P2P, em 2020, eram a Rússia (17,4%), Venezuela (12,3%) e Colômbia (11,3%), com 41% do volume global entre eles. Países como Brasil, Argentina e Chile também tinham volume considerável na plataforma na ocasião.

Guillermo Goncalvez, que é venezuelano, opina que foram vários fatores os que contribuíram com o fechamento das atividades da companhia finlandesa.

“Após o lançamento de dólar Tether (USDT) em 2014, os usuários P2P cripto obtiveram um tipo de conta poupança em dólares digitais, sem a volatilidade do Bitcoin. Esse foi o primeiro desafio que LocalBitcoins encontrou na região.”

O CEO da El Dorado destaca que a maioria dos usuários da LocalBitcoins venezuelanos buscavam acesso a uma alternativa para comprar dólares e se proteger contra a inflação da moeda local. Assim, em 2019 a Binance chegou forte na Venezuela, com um programa de acesso a stablecoins com taxas zero, que pode ter atraído clientes no país.

“Para muitos usuários LocalBitcoins na Venezuela, poupar em Bitcoin não era o
objetivo final, mas conseguir dólares em contas de banco dos EEUA ou Panamá sim. Assim, Bitcoin em P2P era utilizado como Ponte entre o bolívar venezuelano e o dólar americano.

Em 2019, Binance anunciou o lançamento de seu mercado P2P para USDT com uma campanha de 0 taxas na Venezuela. Isso com a possibilidade de enviar dinheiro entre usuários Binance de graça atraiu a atenção do usuário Bitcoin P2P venezuelano, fator que para LocalBitcoins representou um custo alto, pois hoje o líder do mercado P2P é a Binance.”

Outras plataformas P2P devem surgir e ocupar a lacuna deixa pela LocalBitcoins

Além do baixo impacto com a saída da LocalBitcoins na Venezuela, o CEO da El Dorado diz ao Livecoins que o futuro segue promissor para plataformas P2P.

De acordo com ele, a finada plataforma tinha 8 milhões de clientes e era o maior mercado P2P de bitcoin. Tais clientes procuram alternativas com a saída da empresa, mas favorece a concorrência.

Segundo ele, o investidor venezuelano não consegue realizar compras com cartões nacionais, o que os leva a procurar fintechs globais com cartões pré-pagos. E a plataforma El Dorado, por exemplo, tem ajudado seus clientes a recarregarem os cartões com stablecoins, diretamente da Venezuela.

A plataforma inclusive chega ao Brasil em 2023, com sua aplicação dando suporte inclusive ao PIX.

“Temos validado nos últimos meses como um mercado P2P pensado especialmente para América do Sul, construído por locais da região, que permite oferecer uma solução ajustada a medida que o usuário cripto P2P de LATAM cresce. Uma tese que exportarmos em 2023 ao Brasil mediante a habilitação de PIX em El Dorado P2P.”

Venezuelano que mora no Brasil não acredita que fim da LocalBitcoins causará impacto em seu país

O Livecoins também procurou conversar com o “El Sultán Bitcoin“, Marketing Manager da Luxor. Venezuelano, ele hoje mora no Brasil e recentemente instalou uma antena da Blockstream em Santos (SP), se tornando o primeiro full node em satélite do país.

De acordo com o “sultão”, “o impacto da saída da LocalBitcoins na Venezuela será limitado já que os volumes da corretora vem com tendência de queda há um bom tempo”.

Segundo sua análise, dias antes do anúncio do fim da plataforma P2P, o volume foi de apenas 29 Bitcoins na Venezuela, o que equivale a pouco mais de 600 mil dólares.

Para o sultão, os venezuelanos mostram mais interesse em stablecoins que no bitcoin, superando até o volume no Brasil.

“A crescente popularidade de stablecoins, em especial USDT, tomou grande mercado da LocalBitcoins na Venezuela. Segundo dados do último relatório de adoção global cripto da Chainalysis, 34% de todas a transações de stablecoins menores a 1.000 USD pertence à Venezuela. Superando inclusive o Brasil.”

Venezuela faz mais operações que Argentina, Brasil e México com stablecoins em valores abaixo de mil dólares
Venezuela faz mais operações que Argentina, Brasil e México com stablecoins em valores abaixo de mil dólares. Crédito: Chainalysis.

De acordo com o venezuelano radicado no Brasil, o volume em P2Ps centralizados do país cresce, principalmente na Binance, Syklo e El Dorado.

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Gustavo Bertolucci
Gustavo Bertoluccihttps://github.com/gusbertol
Graduado em Análise de Dados e BI, interessado em novas tecnologias, fintechs e criptomoedas. Autor no portal de notícias Livecoins desde 2018.

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