- James Zhong tinha apenas 22 anos quando roubou mais de 50.000 bitcoins da Silk Road em 2012;
- Na data, a quantia valia R$ 1,2 milhão, mas hoje está avaliada em R$ 7,5 bilhões;
- Apesar de ter sido uma das maiores apreensões dos EUA, Zhong ficará na prisão por apenas 1 ano e 1 dia.
Plataformas que trabalhavam como Bitcoin não eram nada seguras nos primeiros anos da criptomoeda. Um grande exemplo disso foi o método usado por James Zhong para roubar mais de 50.000 bitcoins da Silk Road, um mercado onde era possível encontrar diversos produtos ilegais.
Em suma, o governo conta que Zhong depositou 500 bitcoins no site, mas conseguiu sacar este mesmo valor cinco vezes enquanto se aproveitava de uma falha de saques duplicados.
Ou seja, o americano depositou 500 bitcoins, mas sacou 2.500, lucrando 2.000 BTC sem nenhum esforço. Percebendo que seu ataque havia funcionado, o jovem de apenas 22 anos drenou as carteiras da Silk Road em 2012.
Conforme o Bitcoin era negociado por apenas 12 dólares na época — e o dólar valia R$ 2 — Zhong conseguiu R$ 1,2 milhão em Bitcoin. No entanto, o americano não vendeu suas criptomoedas e, por conta disso, transformou-se em um bilionário nos anos seguintes.
Na data da apreensão, 9 de novembro de 2021, a quantia estava avaliada em R$ 17 bilhões. Era o maior confisco dos EUA até a data, sendo superado nos meses seguintes com a prisão de Ilya Lichtenstein e Heather Morgan.
Além dos valores, também chamou atenção o local onde essa fortuna era: em uma lata de pipoca. Os EUA também confiscaram barras de prata e ouro, moedas físicas de Bitcoin e dinheiro em espécie.
James Zhong exibia sua fortuna nas redes sociais
Através do Bitcointalk, fórum criado por Satoshi Nakamoto, Jamez Zhong gabava-se de sua fortuna roubada. Em sua assinatura, o americano se descrevia como um “multimilionário do Bitcoin”.
“Sou dono do endereço 1BqcwhKevdBKeos72b8E32Swjrp4iDVnjP com 40.000 moedas”, escreveu Zhong em 2012 enquanto se apresentava a outros membros.
Mais tarde, em 2017, o Bitcoin estava passando por uma grande guerra ideológica em relação a qual deveria ser o tamanho de seus blocos. Zhong então usou suas moedas roubadas para alfinetar Roger Ver, dono do site Bitcoin.com, e Jihan Wu, fundador da Bitmain. Os dois eram grandes apoiadores do Bitcoin Cash (BCH), que na data ainda era chamado de Bitcoin Unlimited (BTU).
“Roger Ver, vamos fazer um acordo. Pelo menos 60.000 (bitcoins), meus BTU pelos seus BTC”, escreveu Zhong em 2017. “A oferta também está aberta para Jihan Wu.”
Ao que tudo indica, ninguém aceitou a oferta de Zhong. No entanto, o americano rapidamente vendeu todos seus BCH após recebê-los, transformando-os em 3.500 BTC.
James Zhong é preso, tem seus bitcoins apreendidos e é sentenciado
Ainda não está claro se as mensagens acima desempenharam algum papel na investigação que levou James Zhong à prisão. Outra hipótese levantada foi o uso de corretoras, afinal os rastros das transações de bitcoin são eternos.
Em conversa com o portal Protos, o tenente americano Shaun Barnett revelou que Zhong ligou para a polícia em 2019 para relatar um roubo, mencionado a perda de “muitos bitcoins”.
Ou seja, talvez Zhong estivesse confiante de que jamais seria preso por seu crime já que sete anos haviam se passado, mas sua ligação à polícia pode ter iniciado a investigação que levou a sua prisão.
Em nota publicada nesta sexta-feira (14), o governo americano revelou que James Zhong foi sentenciado a um ano e um dia de prisão pelo roubo de mais de 50.000 bitcoins.
Dado que Zhong poderia ter enfrentado uma pena máxima de 20 anos, a sentença foi leve. O motivo disso pode estar ligado a sua colaboração com as autoridades.
“A partir de março de 2022 ou por volta disso, Zhong começou a entregar voluntariamente bitcoins adicionais ao qual tinha acesso. No total, Zhong entregou voluntariamente 1.004,14621836 bitcoins adicionais.”
Afinal, além do confisco de 80% da empresa RE&D Investments, US$ 661.900 em espécie, diversas barras de prata e ouro, 25 moedas físicas de bitcoin e 50.491 bitcoins encontrados em uma lata de pipoca, Zhong também entregou, por conta própria, diversos lotes de bitcoin, incluindo:
- 825,38833159 bitcoins em 25 de março de 2022;
- 35,4470080 bitcoins em 25 de maio de 2022;
- 23,7112850 bitcoins em 27 de abril de 2022;
- 115,02532155 bitcoins em 28 de abril de 2022;
- 4,57427222 bitcoins em 8 de junho de, 2022.
Dados on-chain apontam que James Zhong era o 15º maior detentor de Bitcoin do mundo com seus 50.000 bitcoins, mas tudo indica que agora ele está zerado.
Governo americano já começou a liquidar os 50.000 bitcoins que eram de Zhong
Em documento publicado no mês passado, o governo americano confirmou a venda de 9.861 BTC (R$ ~1,5 bilhão). Na nota, também afirmou que outros 41.490 BTC ligados à Zhong seriam vendidos em quatro lotes, mas apenas após a liberação da sentença, o que aconteceu nesta sexta-feira (14).
Ou seja, agora os EUA estão livres para despejar estes R$ 6,25 bilhões. No entanto, o Bitcoin segue em alta, sem medo dessa pressão vendedora.
Por fim, a pena curta de James Zhong também pode reacender discussões sobre a prisão de Ross Ulbricht, fundador da Silk Road que enfrenta perpétua. Embora sejam crimes diferentes, é possível que a recuperação destes mais de 50.000 BTC ligados a Silk Road sejam usados de alguma forma pela defesa de Ulbricht.