Associação quer “driblar” restrição do piloto do Real digital com bancos

Banco Central impôs limite de apenas 10 participantes no piloto do Real digital, mas associação quer driblar restrição com seus associados.

A Associação Brasileira de Bancos (ABBC), apresentou a ideia de se filiar ao piloto do Real digital por meio de um consórcio, que a ajudaria a driblar a restrição de acesso ao projeto, que só aceita 10 participantes.

Como explicado pelo Banco Central do Brasil nos últimos dias, a limitação de apenas 10 participantes no piloto do Real digital exclui até as plataformas de criptomoedas.

Com isso, a ABBC acredita que um eventual consórcio pode dar mais espaço para instituições, contribuindo com a diversidade do projeto do Banco Central. O tema foi abordado durante evento sobre tokenização de ativos, no BC, em São Paulo.

Associação apresentou projeto de consórcio para driblar restrição de participantes em piloto do Real digital

A ABBC anunciou que pretende viabilizar a criação de um consórcio para que instituições financeiras associadas possam se candidatar a participar dos testes que o Banco Central desenvolverá sobre o Real Digital.

Vale lembrar que o projeto procura estruturar a versão tokenizada da moeda soberana brasileira e a infraestrutura necessária para integrar a tecnologia blockchain ao sistema financeiro tradicional regulado.

A divulgação ocorreu na abertura do evento “Tokenização de ativos: uma nova onda”, promovido pela própria ABBC, na quinta-feira (4), na sede do BC, em São Paulo, com apoio da KPMG e do BC.

O programa-piloto do Real Digital fará testes de emissão, resgate e transferência dos ativos na plataforma, bem como avaliará os fluxos financeiros decorrentes de eventos de negociação.

A presidente da ABBC, Sílvia Scorsato, ressaltou que a intenção do consórcio é possibilitar maior diversidade na participação de instituições, enquanto a ABBC propiciará a infraestrutura necessária para o projeto e ajudará na coordenação das ações.

“Representamos bancos de diversos portes, instituições de pagamentos, cooperativas, entre outros. É uma oportunidade para que mais players participem do projeto.”

O Diretor de Inovação e Serviços da ABBC, Euricion Murari, explicou que a proposta também visa utilizar a associação como um nó da infraestrutura necessária para o ambiente, e, assim, otimizar recursos, dar viabilidade e oportunidade às associadas.

Entre os 118 associados à ABBC, existem ao menos 13 instituições que já demonstraram interesse em participar do grupo. Ou seja, a restrição de 10 participantes pelo Banco Central pode acabar driblada com a chegada de consórcios.

Economia tokenizada

A abertura do evento foi comandada pelo Chefe do Departamento de Supervisão Bancária do BC, Belline Santana, e pelo Diretor Técnico da ABBC e Diretor de TI e SI do Banco Brasileiro de Crédito, Wallace Jagiello.

O primeiro painel do evento contextualizou a economia tokenizada, com a participação do Sócio da área de Financial Risk Management da KPMG Brasil, Fábio Lacerda, e do Sócio de Consultoria de Transformação, líder em Payments, Banking & Digital Assets da KPMG, Thiago Rolli.

Eles apresentaram os conceitos fundamentais sobre tokenização, vinculando-os ao atual debate sobre o Real Digital. Nessa exposição, disseram que a tokenização possibilita o fracionamento de ativos em representações digitais (tokens), que viabilizam a negociação fracionada da propriedade desses mesmos ativos.

Tais frações digitais podem funcionar como uma nova classe de ativos negociáveis, ampliando o acesso a novas opções de captação e investimento. Além disso, na visão dos especialistas, o token viabiliza a eficiência econômica em um mundo que se transforma diariamente em direção à economia tokenizada.

No painel 2 do evento, “Experiências com tokenização — casos práticos e visão de futuro”, o CEO da Vórtx QR Tokenizadora, Carlos Ratto, contou que o avanço dos tokens tem a possibilidade de trazer mais eficiência no processo de emissão de ativos, porque aglutina os agentes que hoje existem no mercado.

Em consonância, o Gerente Executivo de Estratégia de Negócios e Inovação da Nuclea, Raphael Mielle Trintinalia, e o especialista em Tecnologia e Inovação da Indústria Financeira para LATAM da Microsoft, João Paulo Aragão Pereira, concordaram, acrescentando que há uma oportunidade boa para crescimento do mercado financeiro, mas que a regulação é importante, principalmente por conta da visão sobre cibersegurança.

Os painelistas colocaram que o Real Digital vai ser um propulsor para a criptoeconomia e que a tecnologia pode alavancar esse movimento.

Aceleração do mercado financeiro

No painel 3 sobre o Real Digital, o Coordenador de Regulação de Riscos Financeiros em Infraestruturas do Mercado Financeiro do BC, Rafael Bianchini, demonstrou que, na visão do regulador, há uma aceleração permanente no mercado financeiro, principalmente com a popularização do Pix.

“Há alguns anos, discutíamos o Pix e ninguém imaginava o que seria hoje. Agora estamos nesse mesmo estágio com o Real Digital. Não podemos negar que o Pix foi um salto de inclusão da população brasileira. Estamos discutindo a tokenização de tudo, não só de ativos financeiros. Real Digital é a tokenização da moeda, que, juridicamente, continua sendo a mesma coisa.”

Márcio Alexandre, Superintendente de Arquitetura e Governança de TI do Sicoob, apresentou sua visão sobre as diferenças na governança dos projetos Pix, Open Finance e agora o Piloto do Real Digital e, na sequência, compartilhou com a audiência a experiência do Sicoob em um projeto de DLT envolvendo outras instituições financeiras brasileiras para estabelecer uma rede blockchain ainda em 2018. O painel foi mediado pelo CEO da CRT4, Ricardo Simone Pereira.

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Gustavo Bertolucci
Gustavo Bertoluccihttps://github.com/gusbertol
Graduado em Análise de Dados e BI, interessado em novas tecnologias, fintechs e criptomoedas. Autor no portal de notícias Livecoins desde 2018.

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