Descentralização é posta à prova no caso Tornado Cash

Isso lembra a vez em que a MetaMask, ligada à Infura, parou de funcionar em certos países devido ao cumprimento de leis, caso que fez usuários repensarem sobre a descentralização do Ethereum.

As sanções aplicadas ao Tornado Cash pelos EUA nesta segunda-feira (8) rapidamente surtiram efeitos. Além do seu site já estar inacessível, tanto o Github de seus desenvolvedores quanto o do próprio projeto foram suspensos.

Fora isso, todos serviços baseados nos EUA — como a Infura, Circle, Alchemy e outros — estão bloqueando o Tornado Cash de alguma forma. Sendo assim, a descentralização está sendo posta à prova, ou ao menos testada ao extremo.

Quem sofre com isso é quem busca privacidade. Afinal, os EUA não estão focando na raiz do problema — os hacks — e sim em uma ferramenta. É como proibir cidadãos de usarem a internet, pois alguém usa a mesma para algo ilícito.

Serviços centralizados banem Tornado Cash

Embora o Tornado Cash ainda esteja funcionando, as sanções impostas pelos EUA conseguiram derrubar o site do projeto em menos de 24 horas, tornando seu acesso muito mais difícil.

Outro ponto que chamou atenção foi a suspensão de contas no Github. Além da própria página do Tornado Cash estar inacessível, a conta de pelo menos um desenvolvedor do projeto foi suspensa.

“Minha conta no GitHub acabou de ser suspensa. Escrever um código-fonte aberto é ilegal agora?”

Tokens centralizados banem endereços

Mais um serviço baseado nos EUA que seguiu as sanções impostas foi a Circle, responsável pela stablecoin USD Coin (USDC). No total, a empresa colocou 38 endereços ligados ao Tornado Cash em uma lista negra, impossibilitando que estes fundos sejam movidos. Como você pode imaginar, tais fundos podem ser de pessoas comuns.

Outra que deve seguir o mesmo caminho é a também americana BitGo, responsável pelo token wrapped Bitcon (wBTC), lastreado em Bitcoin. A Tether (USDT) é outra que pode seguir siga os mesmos caminhos da Circle, embora não seja baseada nos EUA.

Infraestruturas do Ethereum banem acesso ao Tornado Cash

Conforme rodar um full node de Ethereum é no mínimo custoso, tanto exchanges quanto usuários finais dependem de terceiros para conectar-se a rede. Duas das maiores são a Infura e a Alchemy, curiosamente, ambas baniram acesso ao domínio ENS do Tornado Cash.

Isso lembra a vez em que a MetaMask, ligada à Infura, parou de funcionar em certos países devido ao cumprimento de leis, caso que fez usuários repensarem sobre a descentralização do Ethereum.

Sendo assim, a principal preocupação da comunidade está ligada à migração do Ethereum para Proof-of-Stake (PoS). Afinal, futuros validadores baseados nos EUA precisarão cumprir sanções deste tipo, podendo se espalhar para outros países e então gerar algum tipo de censura na rede — ou pelo menos dor de cabeça para seus operadores.

Tornado Cash ainda está funcionando

Por fim, quem mais sofre com o banimento do Tornado Cash são usuários comuns que buscam por privacidade. Afinal, são estas pessoas que mais tem a perder visto que a pena por usar um serviço sancionado pode chegar a 30 anos de prisão.

Já hackers da Coreia do Norte, citados pelo Departamento de Justiça, não devem estar tão preocupados.

“Tenho certeza que os bandidos vão parar de usar o Tornado Cash porque é “ilegal”. Assim como eles não usam armas ilegais, contrabandeiam drogas ilegais ou lavam dinheiro ilegalmente por todos os meios que podem encontrar,” comenta Eric Voorhees, fundador da ShapeShift, em suas redes sociais.

De qualquer forma, os desenvolvedores do Tornado Cash se prepararam para tudo que aconteceu e a ferramenta continua funcional através de IPFS e outros RPCs além da Infura/Alchemy.

Tornado Cash em funcionamento mesmo após sanções dos EUA.

Portanto, com os EUA não conseguindo combater hackers, sua nova guerra contra a privacidade acaba afetando apenas aqueles que, até o momento, não eram considerados criminosos.

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Henrique HK
Henrique HKhttps://github.com/sabotag3x
Formado em desenvolvimento web há mais de 20 anos, Henrique Kalashnikov encontrou-se com o Bitcoin em 2016 e desde então está desvendando seus pormenores. Tradutor de mais de 100 documentos sobre criptomoedas alternativas, também já teve uma pequena fazenda de mineração com mais de 50 placas de vídeo. Atualmente segue acompanhando as tendências do setor, usando seu conhecimento para entregar bons conteúdos aos leitores do Livecoins.

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