Trazendo geolocalização para dentro de smart contracts

Diversas aplicações de IoT utilizam informações de geolocalização. Assim, um carro poderia informar ao portão da garagem assim que ele se aproximasse da residência. Uma encomenda poderia informar o destinatário quando estive próxima do seu destino. Enfim, informações de geolocalização de objetos são elemento importante no mundo IoT. Principalmente se eles forem gatilhos para a execução de smart contracts. É possível fazer a ponte entre o blockchain e o mundo real no que diz respeito à geolocalização?

Oráculos e IoT

Apesar do boom recente das criptomoedas e do blockchain ainda não poucos os projetos e iniciativas que integram essas aplicações com o mundo real. A execução de smart contracts com base em informações fora do blockchain é um desafio para todas as plataformas. Nesse sentido, o uso de oráculos tem se mostrado como a principal solução. Entretanto, trazer para dentro do blockchain informações muito específicas e de difícil validação tem se demonstrado como um desafio para esses oráculos.

No terceiro artigo dessa série sobre os potenciais entre criptomoedas e IoT vamos falar sobre a rede XY Oracle (XYO) e como esse projeto pode fazer a ponte entre o mundo real e o blockchain. No artigo anterior falamos sobre IOTA e seus últimos avanços.

Um oráculo descentralizado sobre geolocalização

Ainda em fase de ICO (Initial Coin Offer) a XYO Networks se propõe ser um oráculo descentralizado de geolocalização. Dessa forma, a proposta de valor dessa nova criptomoeda é permitir que smart contracts sejam executados em função de informações de geolocalização.

A rede XYO é na verdade uma evolução de uma rede já existente, desenvolvida pela companhia XY Findables.  Desde 2012 a equipe dessa empresa vem criando uma rede para mapeamento e geolocalização de praticamente qualquer coisa. Eles oferecem tipo um chaveiro (finder) que pode ser localizado por meio da sua rede de mais de 1 milhão de beacons (algo como farol) utilizando bluetooth, GPS e outras tecnologias.

A evolução para o XYO prevê a utilização dessa rede de equipamentos para fornecer um serviço de oráculo de geolocalização para a execução de smart contracts na plataforma Ethereum. Daí vem o nome: XY Oracle, em referência ao plano cartesiano XY.

Ethereum é só o começo

Mas a utilização da plataforma Ethereum é só o começo desse projeto. No roadmap da equipe tem previsão de criação de um blockchain próprio e uma integração com qualquer plataforma que suporte smart contracts, como IOTA, Cardano, EOS, Lisk, dentre outros.

Essa ideia de aplicar informações de geolocalização no blockchain apareceu pela primeira vez em setembro de 2016 no projeto Sikorka, de autoria do desenvolvedor Ehtereum chamado Lefteris Karapetsas. A idéia desse cara era utilizar informações de localização para executar smart contracts em uma aplicação de realidade aumentada.

Essa proposta de utilizar informações do mundo real (localização de objetos) como inputs para smart contracts trouxe um grande desafio sobre como validar as informações do mundo real. A grande inovação do XYO está justamente na construção de um ecossistema  para validar as informações de geolocalização. Para isso usam também o que chamam de Proof of Origin e Bound Witnesses (testemunhas vinculadas). Entretanto, não vou detalhar aqui essas inovações, mas sim explicar um pouco sobre os elementos que compõe a rede XYO.

A rede XYO

O primeiro elemento da rede XYO é o chamado “Sentinela” (sentinels). Esses funcionam como “testemunhas” quanto à localização dos objetos. As Sentinelas são rastreadores Bluetooh, rastreadores via GPS, sensores, scanners de QR codes e RFID e qualquer outro device que rastreiem objetos. As Sentinelas observam as informações sobre geolocalização e produzem registros sobre essas informações. Esses registros são assinados pela sentinela e vão formando uma corrente que retransmite esses registros. As sentinelas que fornecerem informações de geolocalização efetivamente utilizadas pela rede são remuneradas por meio de tokens XYO.

O segundo elemento da rede são as Pontes (bridges). Esse elemento retransmite os registros feitos e assinados pelas sentinelas para o próximo elemento da rede, chamado de Arquivista (archivist). As Pontes garantem que os registros das Sentinelas são repassados sem comprometimento. Além disso, as Pontes também validam as informações de geolocalização dos objetos. Dessa forma, elas também são remuneradas por meio de tokens XYO.

Os Arquivistas arquivam todos os registros das Sentinelas de forma descentralizada. Assim, garantem que a perda de informações não comprometa a rede, mas apenas torne as informações menos acuradas. Pela natureza descentralizada, todos os Arquivistas estão conectados. Dessa forma, um Arquivista pode consultar o outro sobre informações de geolocalização. Quando uma informação contida pelo Arquivista é efetivamente utilizada pela rede ele valida a informação, sendo remunerado também. Caso diversos Arquivistas tenham sido envolvidos, estes são todos remunerados.

Adivinhos: o coração do XYO

Por fim, o quarto e mais crucial elemento é chamado de Adivinho (Diviner). Os Adivinhos recebem as consultas (queries) de geolocalização feitas à rede e consultam os Arquivistas sobre todas as potenciais respostas para aquela consulta. Essas respostas são então classificadas em função de sua acurácia e confiabilidade. Essa avaliação é feita com base nas assinaturas dos demais elementos da rede XYO. Além disso, também são considerados critérios estatísticos sobre as informações registradas pelas Sentinelas. Então, o Adivinho que conseguir a melhor resposta no menor tempo é autorizado a criar um bloco e adicioná-lo ao blockchain do XYO por meio de PoW, sendo remunerado por isso. Dessa forma, outros Adivinhos que validarem a resposta também assinam o bloco e a resposta é enviada ao smart contract que fez a consulta.

Ao final, todos os componentes da rede XYO envolvidos na coleta, transmissão, validação e devolução da resposta são então remunerados.

XYO e seu potencial no mundo IoT

Como podem ver, a rede XYO serve como prestador de serviços para as plataformas que utilizarem smart contracts. Qualquer um que quiser utilizar geolocalização no seu smart contract poderá consultar a rede XYO como oráculo descentralizado.  A rede XYO então oferece uma solução transversal às plataformas de smart contracts, conectando com mundo real.

Na visão de quem consome o serviço da rede XYO funciona mais ou menos assim. Uma consulta é feita sobre a localização de um objeto rastreável por meio de um finder. Essa consulta é colocada em uma fila. Nessa consulta é possível estabelecer a precisão da resposta e o valor que quer se pagar por essa consulta em tokens XYO.  Assim, quando essa query é processada, são consultados todos os Arquivistas que têm informações sobre o objeto. Quando a resposta é encontrada ela é devolvida para quem fez a consulta. Então, o valor da consulta é executado e todos os elementos da rede são remunerados.

Na minha visão essa proposta de valor do XYO permite a viabilização de diversos casos de uso no mundo IoT, como por exemplo entrega de encomendas por meio de drones, serviços de aluguel de automóveis, e-commerce, dentre outros. A participação de Oráculos na criptoeconomia ainda é um grande desafio para a utilização massiva de criptomoedas. Por já terem uma rede e um produto para rastreamento de objetos, me parece que a XYO tem um grande potencial de agregar valor para todas as plataformas que suportam smart contracts. Para ver se o mercado vai reconhecer esse valor precisamos esperar agora o fim do prazo da ICO (dia 20/05) e acompanhar o preço dessa nova criptomoeda.

Até a próxima!

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Carlos Baigorri
Carlos Baigorri
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Brasília (UnB), com mestrado e doutorado em Economia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Na área de telecomunicações desde 2006, foi consultor e analista de informações setoriais em associação de operadoras celulares. Também atuou como professor de graduação na Universidade Católica de Brasília (UCB), no Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB) e no Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (IBMEC). Escreveu artigos e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior. É servidor de carreira da Anatel desde 2009, onde foi Superintendente-executivo, Superintendente de Competição, Chefe da Assessoria Técnica, Superintendente de Controle de Obrigações. Foi Conselheiro de outubro de 2020 a abril de 2022, quando se tornou Presidente Executivo e Presidente do Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações. Início de Mandato: 14 de abril de 2022.

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