Parecia impossível, mas aconteceu: o Ethereum, que é a maior blockchain da atualidade, está movimentando mais de 30 bilhões de dólares por dia de forma on-chain, mais que o dobro da blockchain do Bitcoin.
Grande parte desse volume está atrelado aos tokens ERC-20, especialmente, aos pertencentes ao ecossistema DeFi.
De modo geral, DeFi significa “Finanças Descentralizadas”, que atualmente é um microcosmo dos ecossistemas financeiros tradicionais e blockchain que, em um futuro não tão distante, deve substituir a forma tradicional de plataformas de investimentos, como os bancos e corretoras.
Percebemos que houve uma grande redução das taxas de transação nos últimos meses. De maneira geral, entre janeiro e junho, o número diário de transações na blockchain do Bitcoin caíram de 400.000 para 175.000.
Da mesma forma, o número de transações diárias na rede do Ethereum caíram de 1,6 milhão para 1 milhão entre maio e junho.
Muito disso se deu pela queda geral do valor das criptomoedas no último mês ocasionada majoritariamente pelas baleias e pelos iniciantes do mercado que ainda não conseguem suportar bem a volatilidade.
Como consequência, obtivemos uma redução do total de dólares depositados nos sistemas DeFi da blockchain, como podemos ver abaixo:
Qual a relação entre Ethereum, Ether, DeFi e a valorização/desvalorização do ativo?
É essencial entender que esses serviços financeiros usam criptoativos e operam nos algoritmos nas blockchains. Ligando as informações soltas conseguimos notar que a relação entre o DeFi e a valorização do Ethereum é a seguinte: para realizar transações nessas plataformas é necessário o pagamento de taxas cobradas em Ether, moeda nativa da plataforma Ethereum.
Conseguiu pegar a ideia?
O Ethereum, assim como qualquer outra blockchain, cobra taxas pela sua utilização. Essas taxas servem para remunerar os mineradores responsáveis por aprovar cada transação.
Nessa blockchain (máquina virtual de Ethereum, EVM), o valor cobrado acontece cada vez que uma transação ou contrato inteligente se chama gás. Em suma, este é o mecanismo digital por trás da criptomoeda, para que aplicativos descentralizados possam funcionar automaticamente.
De maneira didática, é como se o Ethereum fosse um banco (“banco X”) e todas as taxas cobradas pelas movimentações feitas dentro desse banco só pudessem ser pagas com a moeda específica (“moeda Y”).
Não importa se você tem uma moeda que vale bem mais, as regras continuam as mesmas.
No exemplo acima, temos, portanto, que ambos estão interligados e que se mais pessoas começam a usar o “Banco X”, o volume e a valorização da “Moeda Y” acontecem juntos, praticamente de forma automática – isso sem contar que tal estrutura favorece a Lei da Oferta x Demanda que rege o livre mercado.
Nessa análise, irei citar as três principais mudanças que tendem a fazer com que o sistema DeFi comece a ser amplamente usado, levando, portanto, a uma possível valorização crescente da criptomoeda ETH.
Cabe ressalta que a explicação detalhada dos aperfeiçoamentos da rede seja de difícil compreensão para muitos – inclusive, é para mim.
De antemão, sugiro que continue a leitura por inteira mesmo que consiga entender pouca coisa, uma vez que somará para o background de conhecimento.
(Spoiler: haverá o ponto principal de cada mudança no fim ao artigo para copilar o essencial)
3 eventos que podem valorizar o Ether
1. Rollups
A primeira importante atualização é o lançamento de soluções de segunda camada, conhecidas como Rollups.
Essas soluções são projetadas para ajudar a dimensionar e principalmente expandir a escalabilidade da rede, tornando usabilidade de algumas corretoras descentralizadas (DEX), como a SushiSwap e a Aave, mais acessível e com taxas praticamente inexistentes.
É essencial dar atenção especial à escalabilidade, uma vez que ela representa a capacidade de um sistema ou rede se ampliar e fazer a gestão da crescente demanda.
Segunda camada, portanto, é uma estrutura secundária criado acima de um sistema blockchain existente.
As segundas camadas desta rede (Rollups) ocorrem manipulando transações fora da rede principal Ethereum (camada 1), enquanto tira proveito do modelo de segurança descentralizado robusto da rede principal.
Em uma fala recente, Vitalik Buterin, criador da Ethereum, afirmou que Rollups são uma solução “poderosa” para a escalabilidade da rede no “futuro a curto ou médio prazo (e possivelmente a longo prazo também).
Eles viram uma grande quantidade de entusiasmo da comunidade Ethereum porque, ao contrário das tentativas anteriores de escalonamento da camada 2, eles podem oferecer suporte a código EVM de uso geral, permitindo que os aplicativos existentes migrem facilmente.”
Exemplos de segundas camadas atualmente dentro da rede, são: Polygon, OMG Network – anteriormente conhecida como OmiseGo -, e Optimistic Rollups.
A implementação de soluções de dimensionamento de toda blockchain, como Rollups, é um tópico avançado, pois a tecnologia é menos testada e continua a ser pesquisada e desenvolvida.
Por que são úteis?
- Acabam reduzindo drasticamente as taxas para usuários;
- Promove participação aberta;
- As taxa e as transferência de transação rápida, acontecendo em pouquíssimos segundos.
2. EIP 1559
Ethereum Improvement Proposals (EIPs) são padrões que especificam novos recursos ou processos potenciais para o Ethereum.
Além de fornecer uma especificação técnica para mudanças, os EIPs são a unidade em torno da qual a governança acontece no Ethereum: qualquer pessoa que frequenta a comunidade é livre para propor uma alguma reestruturação.
Em seguida, várias partes interessadas presentes neste ecossistema debatem para determinar se ela deve ser adotada como um padrão ou até mesmo ser incluída em uma atualização de rede.
A proposta de melhoria do Ethereum, a EIP-1559, é uma das cinco alterações de código que serão ativadas na rede Ethereum principal.
Além disso, também é uma das mais aguardadas pelos seus usuários. Tal update da rede da ETH promete tornar o ativo deflacionário em momentos de alto uso da rede, através da queima das taxas pagas nas transações.
O EIP 1559 remove as taxas de transação como uma fonte de renda para os mineradores e as substitui pela taxa de inclusão. Com a atualização, a taxa básica mudará dinamicamente dependendo de quão cheio o bloco estiver no momento de cada transação.
A nova proposta visa manter a utilização da rede em 50% ou menos. Além disso, ela introduz um novo mecanismo de precificação para transações com base em uma taxa mínima chamada de “taxa básica”, que é calculada automaticamente pelo protocolo, em vez de ser definida pelo usuário.
Para usuários ou aplicativos que desejam priorizar suas transações, terá a opção de adicionar uma “dica”, que é chamada de “taxa de prioridade”, para pagar um minerador por uma inclusão mais rápida.
É importante destacar que, atualmente, a taxa média de transação na rede é de alto custo! Cada transação gasta cerca de US$ 50 (a depender do preço do gás no momento), sendo que seu recorde histórico foi cerca de US$ 70 (média) em meados de maio de 2021, algo totalmente inviável e inacessível para pessoas com pouco capital ou iniciantes.
De forma óbvia, era de se esperar que a proposta é fosse altamente contestada pelas partes da mineração por sentirem diretamente no bolso, algo que realmente aconteceu.
De modo geral, é notável que a principal vantagem será a mudança deflacionária na economia da Ethereum. A ideia é tornar as tarifas baseadas na demanda de blocos mais transparentes para o usuário sem o foco específico seja realmente a diminuição do gás, apesar da sua possível diminuição.
Com a EIP 1559, passará a existir um preço médio fixo, acabando com essa incerteza de valores que acabam tendo bastante oscilação.
Limitar a inflação da moeda o tornará um ativo digital tão deflacionário quanto o Bitcoin, o que significa que seu poder de compra só aumentará com o tempo – e é por isso que alguns usuários também rotulam essa mudança como um mecanismo de escassez de Ethereum.
O que deve acontecer é uma redução da oferta de Ethereum no mercado, com uma demanda pelo menos estável, mas em tendência de alta. Esse cenário deve pressionar o preço do ativo para cima.
Importante destacar que, recentemente, houve o lançamento na testnet (rede de teste) antes da sua implementação completa na rede principal. A próxima etapa da implementação do hard fork London será a sua implantação na testnet Goerli, que está agendada para 30 de junho.
Possivelmente, essa solução deve ser lançada ainda neste ano na rede principal do Ethereum.
3. The Merge
A migração de algumas criptomoedas para blockchains com protocolo de consenso Proof of Stake (PoS) é um movimento de amadurecimento do mercado.
O Ethereum vive, hoje, a transição tecnológica mais importante desde sua criação, em 2014-2015: a mudança de como sua estrutura funciona, adotando o PoS – que culminará, por sua vez, no Ethereum 2.0.
Essa rede, batizada de Ethereum 2.0, manterá a segurança por meio de pessoas que emprestam seus tokens.
É importante saber que essa rede, até então, ainda usa o sistema de prova de trabalho (PoW), ou seja, depende muito da taxa de hash de seus mineradores.
Antes de mais nada, se essa sopa de letrinhas de “PoS” e “PoW” causou confusão, fique tranquilo(a) e concentre-se em saber o seguinte:
- O PoW é um sistema que faz a confirmação de movimentação através da realização de um problema matemático realizado por um minerador. Isso demanda muito poder computacional e grande consumo de energia;
- Já o sistema PoS consiste em algum minerador deixar sua criptos no blockchain, e, o que deixar por mais tempo e em maior volume, leva a comissão de transação. Dessa forma, o protocolo PoS é um protocolo de consenso no qual os stakes imobilizam suas posições na rede para mantê-la funcionando. A vantagem é que não há necessidade de um grande poder computacional e nem mesmo grande volume de energia consumida.
Aqueles que fazem o staking do token ETH na rede Ethereum para servir como “pilar” para o Ethereum 2.0 podem receber recompensas de até 23% ao ano atualmente.
Porém, de acordo com as regras, é preciso ter 32 ETH para ser um validador. Além disso, como nem tudo são flores, outra condição é que tanto os depósitos como as recompensas só podem ser sacados após o lançamento da fase 1,5 da atualização, que está, até o momento, programada para 2022.
A quantidade de Ethereum (ETH) depositado em contratos de staking para essa atualização atingiu a marca de praticamente 6 milhões, segundo o gráfico elaborado pelo The Block e, segundo o explorador Beaconcha.in, há atualmente 153 mil validadores processando blocos na atualização.
Além disso, o uso de PoS no lugar de PoW busca obter uma maior eficiência, segurança e escalabilidade para uma blockchain. Com o PoS, os mineradores — que, relembrando, usam poder computacional para validar transações — são substituídos pelos validadores — os que deixaram seus tokens travados no stake.
A migração do sistema Proof of Work (PoW) para o Proof of Stake (PoS) deve reduzir em 4 vezes a taxa de emissão do ETH, além de aumentar a liberdade dos desenvolvedores.
Outro ponto interessante é saber que o Ethereum 2.0 foi lançado parcialmente no final do ano passado e, desde então, a atualização vem sendo feita em etapas conforme crescem o número de participantes do sistema e dos tokens ETH travados na rede.
Em suma, possivelmente o “The Merge” acaba sendo o passo mais verdadeiramente empolgante para concretizar a implementação do Ethereum 2.0 – assunto que merece destaque um novo artigo exclusivo.
Resumo ponto-chave das mudanças:
- Rollups: são soluções de segunda camada. Objetivo é dar escalabilidade ao Ethereum;
- EIP 1559: promete tornar o ativo deflacionário através da queima das taxas pagas nas transações;
- The Merge: migração para Proof of Stake. Deve reduzir em 4 vezes a taxa de emissão do ETH.
Como consequência de todas essas novas reformulações, acredito fortemente que deverá surtir efeito na valorização do Ether e do Ethereum no curto, médio e longo prazo, como já vem acontecendo desde as primeiras implementações iniciais.
Em Julho de 2020 o Ethereum estava valendo $ 234 e, atualmente, mesmo com as atuais quedas de + 50% no último mês, cada ETH está custando $ 2.100, uma valorização total de quase 900% em 12 meses.
Para finalizar, ademais do DeFi, também é importante saber que os contratos inteligentes do Ethereum são os principais responsáveis pela criação de novas criptomoedas e o desenvolvimento de videogames em blockchain.
A rede virou uma rede de infraestrutura para todo o ecossistema.