Temendo que o Ethereum fique frágil devido à centralização, Vitalik Buterin, fundador da criptomoeda, está propondo mudanças no projeto. O texto publicado neste domingo (20) é o terceiro de uma série que o desenvolvedor vem postando nos últimos dias.
Chamado “The Scourge” (O Flagelo, em tradução literal), a proposta mostra que Buterin não está satisfeito com o modelo atual do Ethereum, que já foi observado até mesmo pelo Banco Central dos EUA em estudo sobre censura.
“Além do risco de centralização, também há riscos de extração de valor: um pequeno grupo capturando valor que, de outra forma, iria para os usuários do Ethereum.”
“No último ano, nossa compreensão desses riscos aumentou consideravelmente”, continuou Vitalik, apontando para “a construção de blocos” e “a provisão de capital para staking”.
Fundador do Ethereum propõe mudanças em sua criptomoeda
Embora o modelo de Proof-of-Stake do Ethereum pareça simples, há várias camadas por trás de um bloco. Além dos validadores, também existem os construtores de blocos e os relays.
Uma das propostas de Vitalik Buterin é diminuir o limite dos validadores, dos atuais 32 ETH (R$ 489.000) para apenas 1 ETH (R$ 15.300), permitindo que mais pessoas participem da rede.
No entanto, isso por si só não seria o suficiente. Afinal, pequenos validadores ganhariam menos que os maiores porque não conseguiriam usar ferramentas chamadas de MEV Bots para maximizar suas receitas e, no fim do dia, delegariam seus ethers para terceiros.
Dado isso, Buterin apresentou três soluções.
Política | Decisão necessária |
Riscos a serem analisados
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Não fazer nada | Implementação do MEV burn, se houver |
Quase 100% do ETH em stake, provavelmente em LSTs (talvez uma dominante) / Riscos macroeconômicos
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Limite de staking (via mudança da curva de emissão) | Função de recompensa e parâmetros (especialmente qual é o limite) / Implementação do MEV burn |
Questão em aberto de quais stakers entram e saem, possibilidade de centralização dos remanescentes
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Staking em dois níveis | O papel do nível sem risco / Parâmetros (por exemplo, a economia que determina o valor em stake no nível com risco) / Implementação do MEV burn |
Questão em aberto de quais stakers entram e saem, possibilidade de centralização do nível com risco
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Isso poderia mudar como os blocos do Ethereum são criados. Como exemplo, algumas funções passariam de um player para outro nesta equação.
Transações encriptadas na mempool
Outro grande problema do Ethereum é que os bots MEV tem acesso às transações antes delas serem gravadas na blockchain. Com essas informações, eles conseguem manipular a rede, passando outras transações na frente para obter lucro.
Um caso que explica bem isso foi quando um desses bots foi atacado por um validador, perdendo R$ 126 mil em abril de 2023.
Para solucionar isso, Vitalik Buterin propôs criptografar as transações na mempool. Ou seja, ninguém saberia o conteúdo delas antes delas serem publicadas.
“O principal desafio na implementação de mempools criptografadas é criar um design que garanta que as transações sejam reveladas posteriormente: um simples esquema de “commit e revelação” não funciona, porque, se a revelação for voluntária, o ato de escolher revelar ou não revelar é, por si só, uma espécie de influência de “último a se mover” em um bloco que poderia ser explorada”, escreveu Buterin.
“As duas técnicas principais para isso são decriptação por limite e criptografia de atraso, um primitivo intimamente relacionado a funções de atraso verificáveis (VDFs).”
Em relação à censura, o Ethereum tornou-se mais aberto desde o início de julho, com a censura dos construtores caindo de 60% para menos de 3%. No entanto, isso só mostra o quão centralizada está a criptomoeda, já que essa queda foi um reflexo da mudança de um único player.
Por fim, o fundador do Ethereum tem estado mais ativo no desenvolvimento do projeto nos últimos meses. Um dos motivos pode ser as críticas recebidas pelo fraco desempenho do ether frente ao Bitcoin desde o The Merge.
Nem mesmo a redução da inflação, nem mesmo os ETFs de ETH foram suficientes para que o projeto se destacasse no mercado. No momento desta redação, o Ethereum está cotado a US$ 2.675, longe de seu topo de US$ 4.900 registrado 3 anos atrás.