Advogado quer “varrer” da Congregação Cristã no Brasil anciães que são líderes da Genbit

Na igreja, fiéis são ensinados a não procurarem seus direitos na justiça, pois para eles é dito que apenas Deus faz Justiça

No início desta semana, o Livecoins fez matéria sobre um ancião da Congregação Cristã no Brasil do Paraná que era líder da GenBit, exchange denunciada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por possível crime contra o sistema financeiro.

Após a publicação do texto, diversos membros da igreja enviaram e-mails à redação afirmando que o ancião Elifelete Marcondes da Silva não faz mais parte da igreja desde outubro de 2019. Além disso, disseram que a congregação “destituiu de todos os cargos e ministérios qualquer um que fez parte da Genbit ou da Zero10 Club”.

A história, no entanto, não é bem assim.

Documento enviado ao Livecoins pelo advogado Andre Luiz Heidgger Bueno, que é membro da Congregação Cristã no Brasil do Paraná, mostra que dezenas de outros anciães ainda são líderes da GenBit. Alguns, inclusive, continuam oferecendo produtos da empresa aos fiéis.

Os nomes dos líderes não serão citados a pedido de Bueno.

Advogado envia documento ao Conselho de Anciães

No final do ano passado, Bueno enviou duas notificações sobre a atuação dos líderes religiosos para o Conselho dos Anciãos, grupo formado por membros mais antigos da igreja.

Na Congregação, é o Conselho que analisa casos de fiéis que agem de forma a prejudicar outros membros. Se considerados culpados, podem ser demitidos ou afastados de suas funções.

No documento – intitulado “participação dos membros em negócios ilegais” – Bueno escreveu que os anciães, ao se associarem a uma possível pirâmide financeira, agiram com “improbidade ou desídia” e “quebra de fidelidade à doutrina da Congregação”.

“O princípio da improbidade está diretamente ligado à falta de lisura, uma prática desonesta que contraria os fundamentos da boa-fé. Consoante com a maldade, perversidade e atrocidade a improbidade nega a honradez”, disse ele.

O caso ainda está sendo discutido pelo alto comando da igreja. Alguns anciães envolvidos com a GenBit deixaram seu cargos na instituição religiosa, mas outros continuam.

“O meu trabalho não é contra a Congregação Cristã no Brasil, do qual sou membro, mas sim contra a corrupção que existe no meio das lideranças da igreja”.

Membros não procuram seus direitos, pois acreditam que Justiça é feita apenas por Deus

O trabalho do advogado enfrenta alguns obstáculos. O primeiro é o corporativismo na alta cúpula da Congregação. No grupo seleto, alguns anciães costumam proteger uns aos outros.

Empresa já tem R$ 1,3 milhão bloqueado na justiça paulista.

Outra barreira é que igreja tem um sistema muito fechado com relação à abertura de processos judiciais entre seus membros.

“Os fiéis são ensinados a não procurarem seus direitos em tribunais, pois para eles é apenas Deus quem faz Justiça. Muitos, por incrível que apareça, ainda falam que se realmente perderem o dinheiro investido, é porque receberam um castigo de Deus”, falou Bueno.

Além disso, segundo o advogado, a maior parte dos lesados têm medo de buscar seus direitos por medo de represálias dentro da própria instituição.

“Eles têm receio de denunciar os líderes e serem afastados dos cargos que ocupam dentro da igreja, como de músico, por exemplo”, falou.

Não há numeros oficiais, mas Bueno acredita que 90% dos 45 mil membros que a GenBit tem são evangélicos.

Capa do site da Genbit, que, segundo a CVM, é só nome fantasia da empresa Zero10 Club, proibida de atuar no Brasil
Capa do site da Genbit, que, segundo a CVM, é só nome fantasia da empresa Zero10 Club, proibida de atuar no Brasil

Tio do advogado é líder da GenBit

Bueno contou à reportagem que conheceu a GenBit em agosto do ano passado, por meio de seus próprios familiares, que são líderes da empresa.

Um deles é seu tio, que cuida do setor administrativo da igreja. O nome dele não será divulgado a pedido do advogado.

A reportagem teve acesso a uma troca de mensagens entre os dois, via aplicativo de conversa WhatsApp.

O papo começa com o tio de Bueno. Ele fala que ficou sabendo que o sobrinho havia enviado uma notificação ao Conselho dos Anciães. O advogado, então, envia para o tio uma mensagem explicando o que é uma pirâmide financeira.

Logo depois, o tio questiona por qual motivo o sobrinho está tão “preocupado com a congregação agora”. Escreve ainda que “a pessoa entra (na GenBit) porque quer” e que o sobrinho não deveria se preocupar com o dinheiro dos outros, já que não tem nada a ver com os lesados.

A troca de mensagens continua. De um lado, o sobrinho tenta mostrar para o tio o “estrago” que ele havia feito ao convencer fiéis a investir dinheiro em uma possível pirâmide financeira. Do outro, o tio se defende e diz que era o sobrinho quem estava fazendo um “estrago” ao fazer a denúncia.

O tio ainda continua no cargo.

Igreja é local propício para atrair pessoas sem conhecimento do mercado financeiro

A Congregação Cristã do Brasil chegou ao Brasil em 1910, trazida por um americano chamado Louis Francescon. As primeiras igrejas foram instaladas na região de São Antônio da Platina, no Norte Pioneiro do Paraná, e no bairro do Brás, em São Paulo.

De lá para cá, a igreja cresceu e hoje tem uma das maiores concentrações de evangélicos de todo o Brasil. No país, há 23 mil templos espalhados por todas as regiões e pouco mais de 3 milhões de fiéis.

Esse público, que acredita piamente em seus líderes e na “justiça divina”, é um “prato cheio” para aqueles que querem se aproveitar da bondade e da ingenuidade típica dos religiosos, segundo Bueno.

A reportagem não conseguiu contatar nenhum representante da Congregação para comentar o caso. Um e-mail, com um pedido de entrevista, foi enviado para o Conselho da igreja.

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Lucas Gabriel Marins
Lucas Gabriel Marins
Jornalista desde 2010. Escreve para Livecoins e UOL. Já foi repórter da Gazeta do Povo e da Agência Estadual de Notícias (AEN).

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