Alerta: Justiça nega pedido e cliente da Imperium terá de esperar fim do processo para saber se terá dinheiro de volta

Cuidado em onde você confia seu dinheiro. Ter de volta é mais difícil do que parece.

A Justiça paulista negou a antecipação de tutela para um cliente que deixou de receber rendimentos da Imperium Investimentos e não obteve seu dinheiro de volta da empresa. A decisão foi publicada nesta quarta (15/5) no Diário da Justiça do Estado de São Paulo, tomada pelo juiz Cristian Mantuan, da 3ª Vara Cível de Mauá (SP).

A Imperium Investimentos atua no país há alguns anos, com diversas denúncias de clientes não respondidas no site Reclame Aqui e acusações de ser uma pirâmide financeira.

Na ação, além de pedir o valor do seu investimento de volta, o cliente solicitava a rescisão do contrato – negada pela empresa -, além do arresto de bens dos donos da Imperium, Nelly Cristina Almeida da Silva e Gabriel Almeida da Silva, no valor de R$ 61.310,04 de ativos financeiros, bens de propriedade das rés ou bitcoins.

Além dessas medidas, o cliente pedia ainda a aplicação de “multa de 2% ao mês em razão do inadimplemento e indenização por dano moral no valor de R$ 30.000,00”.

Rescisão negada

De acordo com decisão, o cliente firmou contrato com a Imperium em 12 de abril de 2018, investindo R$ 20 mil, com previsão de lucros de 20% ao mês, durante quatro meses. O contrato foi cumprido e, ao fim do período, o cliente não só reaplicou o valor, como investiu mais R$ 50.800,00 por mais quatro meses, com a mesma previsão de 20%.

Então, ainda segundo a decisão, a Imperium deixou de pagar os rendimentos, alegando problemas na plataforma, realização de auditoria, reestruturação empresarial e que o dinheiro estaria “nas mãos da corretora E-Bit”.

O cliente tentou rescindir o contrato, mas a Imperium não permitiu.

Letras miúdas

Como dissemos, a justiça negou o pedido de “tutela antecipada”, ou seja, decidiu que a Imperium não é obrigada a devolver agora para o cliente o valor investido, nem da indenização, e nem seus sócios são obrigados a tirar dinheiro do bolso para arcar com as dívidas da empresa, por enquanto.

Chama a atenção um dos argumentos do juiz:

“expressamente constou dos contratos que o investidor declara estar ciente da volatilidade e aceitar o risco típico do ambiente negocial que envolve transações no mercado de capitais”.

Trocando em miúdos. Embora a Imperium, em suas comunicações, evite a todo custo falar em possibilidade de perda, no contrato com o cliente, ela não esquece de colocar isso. E o fato de que essa cláusula está lá, perdida no meio do contrato, é motivo para o juiz negar a tutela antecipada e pode ser também motivo para a Imperium vencer o processo quando for julgado o mérito.

Neste ponto, vale divulgar algumas imagens obtidas nesta quinta, 16 de maio, em sites que divulgam os serviços da Imperium. Vamos a elas:

LinkedIn da Imperium oferece lucros de 30% ao mês

Nesta página da rede LinkedIn, rede social de conexões entre profissionais e empresas, vale reparar que a Imperium oferece 30% de juros ao mês para quem investe com ela. Isso sem explicar que é um mercado de risco. Ou seja, mesmo sem estar aí a palavra, o que eles oferecem é um investimento “garantido”. Algo que contraria as letrinhas miúdas do contrato.

Mas, se o LinkedIn esconde a palavra, o Facebook da empresa, neste card, escancara:

Anúncio da Imperium no Facebook
Anúncio da Imperium no Facebook oferece “100% de retorno garantido”.

Repare no “100% de retorno garantido em contrato”. Ou seja, uma coisa é a propaganda, outra é o contrato com o cliente, como vimos na decisão da 3ª Vara Cível de Mauá.

Resta esperar as cenas dos próximos capítulos, ou seja, a decisão do mérito, depois o recurso na segunda instância e talvez uma consulta ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). E o cliente pode esperar anos até que tudo isso aconteça.

Enquanto isso, na capital…

Também foi publicado no Diário da Justiça outra decisão contra a Imperium. No processo, divulgado nesta quinta (16/5), que corre na 6ª Vara Cível da capital, o cliente afirma ter investido R$ 25.836,00 com a Imperium, sendo que não só ele não teve os retornos do investimento, como também não obteve a rescisão do contrato e seu dinheiro de volta.

Diferentemente da decisão de Mauá, na capital o juiz Emanuel Brandão Filho concedeu tutela parcial ao cliente, determinando o arresto dos bens dos proprietários da Imperium, no valor do investimento. O juiz, entretanto, negou o arresto dos 31% de lucros que, segundo o cliente, lhe foram prometidos, por não estarem em contrato. Mais uma vez, vitória das letrinhas miúdas.

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Sui Teixeira
Sui Teixeira é jornalista desde 2001, formada pela USP. Trabalha ainda como produtora de jingles, é programadora amadora e entusiasta de ciência e tecnologia.

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