Palco de uma das maiores crises entre empresas que compõem o índice Ibovespa nos últimos anos, a Americanas é a mais nova companhia de capital aberto do Brasil a experimentar um rombo contábil.
De acordo com a carteira do dia 12 de janeiro de 2023, a AMER3 ainda segue com participação de 0,369% no Ibovespa.
A informação do problema, revelada pelo ex-CEO Sérgio Rial, também foi confirmada em Fato Relevante ao mercado financeiro na última quarta-feira (11).
“Americanas S.A. (“Americanas” ou “Companhia”), em atendimento ao disposto na Resolução CVM n.º 44, de 23 de agosto de 2021, vem comunicar aos seus acionistas e ao mercado em geral que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022. Numa análise preliminar, a área contábil da Companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022. A Companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial.”
Sérgio Rial tomou posse no dia 2 de janeiro, após passagens pelo Santander e experiência grande em empresas de capital aberto. Em nove dias ele encontrou o erro e pediu para sair do cargo de presidente-executivo da Americanas.
Ações da Americanas derretem 76% nesta quinta, após rombo contábil apontado por ex-CEO
Após a publicação do Fato Relevante pela Americanas SA, o mercado financeiro brasileiro ficou chocado com a novidade, que não vinha sendo divulgada nos últimos balanços públicos da empresa. Como é regulada por autoridades, auditada por grandes empresas, causou surpresa um balanço negativo.
Logo na abertura do pregão na B3, as ações da Americanas (AMER3) passaram por leilão, mas após liberadas ao mercado, apresentaram queda de 76,42% no dia, de acordo com dados do Google Finanças.
Parte do mercado se preocupa que as primeiras informações ainda não sejam claras o bastante para mostrar a real situação da empresa. Ou seja, os primeiros impactos negativos na contabilidade têm potencial de quebrar a Americanas, caso ela não consiga obter novas captações de recursos.
De acordo com Ivan Barboza, sócio-gestor do Ártica Long Term FIA, em nota ao Livecoins, ele teme os desdobramentos do problema Americanas em outras empresas de capital aberto no Brasil.
“O rombo representa 1,9x o valor da empresa no mercado até ontem, grande o suficiente para quebrar a empresa, se não conseguirem levantar capital novo para resgatar o negócio. Para o mercado como um todo, fica o receio de se apenas as Lojas Americanas estavam adotando essa prática contábil condenável ou se podem surgir rombos de natureza semelhante em outras empresas. O maior problema é que esse tipo de erro contábil é muito difícil de detectar. Se os demonstrativos financeiros não são preparados da maneira com que deveriam, só quem está vendo a empresa por dentro é que tem informações suficientes para identificar a má conduta.”
Em um vídeo nesta quinta, Sérgio Rial disse que apesar de ter saído da posição de CEO, continuará como conselheiro dos acionistas para resolver a delicada situação.
Americanas já estudou entrada em mercado de criptomoedas em 2022
Em registros de marca realizados no início de 2022, a Americanas SA protocolou junto ao INPI o pedido para proteger sua identidade.
Em cópias obtidas pelo Livecoins sobre os processos, pelo menos duas marcas ligadas a Americanas pediram registros com a possibilidade de atuar no mercado de criptomoedas em algum momento.
Além disso, a empresa mostrou interesse em atuar pelo metaverso, em agosto de 2022. Um espaço em um ambiente digital inspirado em GTA V chegou a passar por testes pela companhia.
Com o colapso contábil, não está claro se a empresa seguirá com planos no setor. Isso porque, a prioridade agora é organizar as contas e voltar a passar confiança aos investidores.