As criptomoedas são um tema em alta na pandemia do novo coronavírus, principalmente com o destaque dado ao fenômeno chamado de digitalização. Para um professor de economia da USP, o Bitcoin modifica a esfera pública brasileira, trabalhando até com a hipótese de reinvenção do dinheiro.
A crise de 2008, de fato, ainda deixa lembrança no mercado financeiro, como um episódio fatídico na história. Após 12 anos de distância daquele evento, em que grandes bancos dos EUA faliram, as consequências ainda são lembradas hoje.
Isso porque, para um economista da USP, a crise de 2008 deixou um legado para o mundo. Contudo, este legado ainda não teria sido completamente digerido, com a pandemia do novo coronavírus trazendo a tona seus reflexos.
Bitcoin modifica a esfera pública brasileira, aponta professor de economia da USP
O Bitcoin é uma moeda digital forjada a partir da crise de 2008, em resposta a corrupção bancária. Quando Satoshi Nakamoto lançou o Bitcoin, afirmou que a população poderia ter, pela primeira vez, uma moeda livre, com funcionamento pela internet.
Ao longo dos anos, a moeda digital ganhou espaço em vários países, inclusive no Brasil. De acordo com Gilson Schwartz, professor de economia da USP, o Bitcoin é uma tecnologia que modifica a esfera pública no Brasil.
Para Gilson, com o Bitcoin e as moedas digitais, o governo passa por mudanças, criando uma esfera pública digital. Com mais tecnologias, o sistema financeiro atravessa um momento de descentralização.
O professor lembrou que a onda do Bitcoin, e das criptomoedas, está muito associada a crise de 2008. Gilson destacou que o episódio de 2008 “abalou a estrutura dos bancos centrais, o perfil da dívida pública de muitos países desenvolvidos e criou novos problemas de endividamento para países em desenvolvimento“.
Em coluna no Jornal da USP, o professor Gilson Schwartz destacou que, passado pouco mais de 10 anos da crise de 2008, o momento é mais delicado. Naquela ocasião, a crise foi envolta a quebradeira dos bancos, mas dessa vez é associada à pandemia do novo coronavírus. Gilson lembrou que a realidade da crise de 2008 nunca foi enfrentada, e piora em 2020.
Expectativas de destruição de atividades econômicas expõe fragilidade dos governos e coloca em ascensão segunda onda do Bitcoin no mundo
Com a crise sanitária e financeira que abala o mundo em 2020, a capacidade de resposta dos governos está em evidência. Esse cenário, aliado a pressão da população, que amarga em desemprego, coloca uma luz sobre as criptomoedas, destacou o professor de economia da USP.
“Com essas expectativas de uma virtual destruição de muitas atividades econômicas e uma dimensão de desemprego brutal, senão catastrófica, é o próprio poder dos governos que entra em questão”, afirmou Gilson
De acordo com o professor Gilson Schwartz, com instabilidade crescente, destaca um novo mercado. A chamada segunda onda de criptomoedas, principalmente com o Bitcoin, expõe uma nova realidade descentralizada. O professor lembrou que mercados têm crescido em torno dessas criptomoedas, com uso de contratos inteligentes e registros públicos.
Com o Bitcoin, a nova esfera pública modifica o status quo, criando uma realidade e economia baseada em códigos. Gilson acredita que ícones, marcas e novas realidades de consumo farão parte da nova economia digital, que modifica até o formato de ocupação de espaços, “desde o turismo até fábricas e agricultura“.
“É toda uma transformação que coloca em questão a capacidade do governo acompanhar o ritmo da inovação e preservar as suas fontes de arrecadação dos seus modelos de execução, inclusive de gastos públicos”, lembrou o professor da USP
Por fim, Gilson lembrou que há quem defenda o aumento de gastos públicos para sair da crise. Contudo, para o professor, não pode ser feito qualquer gasto público e há que se tomar cuidado com a distribuição deste. A justificativa para aumento dos gastos públicos deve ter como objetivo um “gasto que gere perspectivas reais de crescimento“, apontou.