Na quarta-feira, 23, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia se firmou. Após uma longa onda de ameaças e iminência de conflito, Putin não exitou e, infelizmente, cumpriu com o que falara anteriormente.
Desde o começo das narrativas a respeito de uma invasão russa na Ucrânia, especialistas e estudiosos já previam o cenário catastrófico que resultaria deste conflito. Tanto humanitários, quanto econômicos, os resultados são extremamente preocupantes e negativos para ambos os lados.
Uma breve história do dinheiro vs. guerras
Ao olhar para trás na história, não é difícil assimilar que a queda de um padrão monetário forte, o ouro, culminou em diversas catástrofes sociais e, obviamente, econômicas.
Saifedean Ammous, autor do livro “Bitcoin Standard”, explica com maestria a relação entre o sistema fiat e a queda dos imperativos morais sociais, relacionando isso, também, com a nossa preferência temporal.
Para Ammous, a principal diferença da Primeira Guerra Mundial em relação aos conflitos anteriores era monetária.
Quando os governos estavam no padrão-ouro eles tinham controle direto dos grandes cofres, enquanto os cidadãos usavam recibos de papel desse ouro. Nesse sentido, era fácil para um governo emitir mais papel-moeda em meio ao conflito para financiar cada vez mais a guerra.
Poucas semanas após a guerra, a conversibilidade do ouro havia sido suspensa. Naquele momento, enquanto o governo pudesse imprimir mais dinheiro e fizesse com que ele fosse aceito pela população, poderia continuar financiando a guerra.
Os problemas da conversibilidade ouro-dólar se alastraram pelos anos seguintes. Com o mercado de ouro tentando refletir a realidade do inflacionismo que havia sido gerado, além do problema enfrentado quando alguns países tentaram repatriar suas reservas de ouro dos EUA, o sistema ruiu.
Sendo assim, com as reservas de ouro acabando e sem lados para correr, Richard Nixon anunciou o fim da conversibilidade do dólar ao ouro em 1971.
Com isso, e trazendo agora ao cenário atual, nós passamos cada vez mais a sofrer os resultados do aumento da base monetária (inflação).
Sendo assim, também financiamos o governo, com impostos, onde os mesmos gastam agredindo indivíduos pacíficos, ignorando completamente o Princípio da Não Agressão (PNA). Dar cada vez menos poder ao governo é o que um dinheiro descentralizado faz, em suma, o bitcoin resolve isso.
O bitcoin para países
No meio da narrativa sobre a guerra iminente, o presidente russo, Vladimir Putin, junto com o Banco Central russo, decidiu reconhecer o bitcoin como moeda. Semanas antes do reconhecimento, Putin havia declarado que iria proibir o bitcoin, altcoins e mineração no país.
Tudo indica que a decisão de voltar atrás sobre o bitcoin teria ocorrido devido às sanções financeiras que o governo americano estava realizando contra a Rússia.
Certamente o bitcoin não seria usado como moeda pelo país naquele momento, mas poderia ser um bom aliado em meio a um cenário de censura econômica.
Já no lado ucraniano, o bitcoin está sendo essencial. Após a confirmação da guerra e o avanço das tropas russas na Ucrânia, as forças armadas ucranianas receberam doações em bitcoin. Em um dia, o país recebeu cerca de 100 bitcoins (U$ 4,3 milhões de dólares).
NEW: Over $4.3 million in #bitcoin has been donated for the Ukraine army 🇺🇦
— Bitcoin Magazine (@BitcoinMagazine) February 25, 2022
Após isso, mais doações foram feitas em bitcoin para a Ucrânia, que recebeu mais U$5 milhões. As doações tem ocorrido após o governo do país limitar saques em dinheiro e proibir compras em moeda estrangeira depois que a invasão russa derrubou ativos.
💥UKRAINE: Over $5m #Bitcoin has been donated so far.
— Bitcoin Archive 🗄🚀🌔 (@BTC_Archive) February 26, 2022
Recentemente, o país declarou oficialmente em sua conta no Twitter que está recebendo doações em bitcoin, Ethereum e USDT. Após a declaração, em menos de duas horas o governo já havia recebido cerca de 20 milhões de reais em doações com bitcoin.
Stand with the people of Ukraine. Now accepting cryptocurrency donations. Bitcoin, Ethereum and USDT.
BTC – 357a3So9CbsNfBBgFYACGvxxS6tMaDoa1P
ETH and USDT (ERC-20) – 0x165CD37b4C644C2921454429E7F9358d18A45e14
— Ukraine / Україна (@Ukraine) February 26, 2022
O bitcoin para pessoas independentes
Com o surgimento da guerra, várias pessoas também passaram a usar o bitcoin para tentar fugir do país, ou ao menos para ter uma reserva segura de seu dinheiro.
Repórteres dinamarqueses conseguiram comprar um carro com bitcoin para sair da Ucrânia. Eles tiveram que fazer isso devido ao governo ter cancelado contas e impedir de usar moedas de outros países.
Um cidadão ucraniano, atualmente refugiado no Cazaquistão, também relatou sua dificuldade em usar a moeda fiduciária. O homem conta que todos seus cartões de crédito não funcionam mais e todas suas economias se foram, mas ainda possui bitcoin, Ethereum e alguns NFTs, que o salvarão nesse momento até ele poder voltar para casa em segurança.
My Ukrainian credit cards don't work anymore. I'm safe physically in Kazakhstan, but all my savings are gone.
Crypto is the only money I still have, and today I can say without exaggeration that $BTC, $ETH, and #NFT are going to save my life while I can't come back home.
— ARTYOM FΞDOSOV 🇺🇦 (@usleepwalker) February 25, 2022
Bitcoin é liberdade para o Canadá
Embora o cenário do Canadá não seja completamente igual ao da Ucrânia x Rússia, a guerra lá pode ser considerada civil.
Devido a diversas medidas estatais proibindo pessoas de circularem e trabalharem normalmente no país, caminhoneiros decidiram protestar em nome da liberdade. Paralisaram seus caminhões em frente ao parlamento e criaram o “Comboio da Liberdade”, nesse momento o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, não tomou nenhuma medida.
No entanto, após o movimento ganhar força ele decidiu agir.
Após líderes do movimento começarem a arrecadar fundos em uma plataforma de financiamento coletivo, Trudeau decidiu bloquear as doações direcionadas aos manifestantes e os bancos foram instruídos a congelar contas de quem possuía alguma ligação com os protestos.
Um “Ato de Emergência” foi imposto no país, para bloquear contas bancárias de quem participava dos protestos (agora, devido às pressões, Trudeau revogou o Ato).
A maneira encontrada pelos manifestantes nessa perseguição financeira foi usar bitcoin. Em pouco tempo, conseguiram atingir a marca de 21 bitcoins, número simbólico que faz alusão ao limite de 21 milhões de unidades.
É dessa forma que podemos perceber como um dinheiro descentralizado e apolítico pode ajudar pessoas. Nessas ondas de poder e censura o bitcoin não tem lado. Todos podem usá-lo.
O grande objetivo do bitcoin, em independentemente dos cenários, não é deixar as pessoas mais ricas e nem servir como um investimento.
Em muitos casos, inclusive, pode nem ser a melhor reserva de valor, mas é, com certeza, a melhor alternativa para liberdade financeira e geográfica. Afinal, o bitcoin não é de nenhum país e pode ser usado por qualquer um e em qualquer lugar.
Seja por bem ou mal, as pessoas irão começar a perceber a importância do bitcoin e usá-lo. Ao Marahtma Ghandi é atribuída uma célebre frase ideal para esse cenário: “Primeiro eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam, então você vence”.