Entrevista com o autor do blog Viver de Renda

Atingindo a tão sonhada independência financeira antes dos 40 anos e tendo comprado Bitcoin em 2015, a história do Viver de Renda (VR) é uma história de sucesso que merece ser compartilhada.  Em entrevista, VR explica como chegou ao seu objetivo, fala sobre sua carteira de investimentos atual, as perspectivas para o Brasil e, é claro, sobre o Bitcoin.

O blog Viver de Renda

O blog Viver de Renda (VR) foi um dos primeiro blogs de finanças do país. O objetivo do blog era claro: viver de renda aos 42 anos, sem trabalhar, apenas com o rendimento da sua carteira de investimentos. Ou seja, atingir a tão sonhada independência financeira. Esse é, sem dúvida, o sonho de muitos jovens da nossa geração.

Mas como chegar lá? É necessário muito dinheiro para se tornar financeiramente independente. Contudo, o caminho é mais simples do que parece, e se tornou a máxima do blog: disciplina, inteligência e paciência.

O caminho para a independência financeira

O blog foi iniciado em 2009, quando o autor anônimo, chamando a si mesmo apenas de VR, ainda com seus 20 e poucos anos começou a postar mensalmente sua carteira de investimentos. O VR divulga não apenas a sua carteira periodicamente, mas também o valor dos seus gastos e aportes, sempre discutindo as melhores estratégias de investimentos nos artigos e  comentários.

No início do blog sua carteira era composta por 50 mil reais, investidos principalmente em renda variável. Surpreendentemente, na última atualização em outubro de 2018, menos de 10 anos depois, o autor já possuía 6,4 milhões de reais.

O autor não só chegou a sua independência financeira, como também a alcançou muito antes do previsto. Como podemos ver na sua carteira, divulgada no próprio blog, o VR tem boa parte do seu portfólio em Bitcoin.

Carteira do Viver de Renda em Outubro de 2018.
Carteira do Viver de Renda em outubro de 2018. Fonte: http://viverderenda.blogspot.com/

Sem dúvida, o VR foi um dos visionários que comprou Bitcoin em 2015. Ele comprou na época 50 bitcoins por 50 mil reais. Contudo, não foi apenas o Bitcoin que o conduziu à essa situação. Boa parte do seu sucesso se deve ao seu conhecimento, disciplina e bons investimentos, principalmente no Tesouro Direto durante o ano de 2016, quando as taxas estavam bastante atrativas. Como ele explica na entrevista, a Renda Fixa no Brasil continua sendo “algo maravilhoso”.

Certamente, a história do VR é uma história de sucesso que merece ser compartilhada. Em entrevista, Viver de Renda explica como chegou ao seu objetivo, fala sobre sua carteira de investimentos atual, as perspectivas para o Brasil e, é claro, sobre o Bitcoin.

A entrevista

De acordo com o seu blog, vemos você iniciou sua jornada com aproximadamente 50 mil reais em 2009, e que esperava chegar no seu objetivo final (viver de renda passiva) somente em torno de 2025. Você chegou nesse objetivo quase 10 anos antes. Quais as decisões que o conduziram à essa situação? Qual foi o papel do bitcoin?

Foram vários os motivos: poupar deste sempre, ter alcançado uma posição profissional que possibilitasse aportes grandes e o mínimo de conhecimento para não cair em “ciladas financeiras”, fora a paciência que é necessária em todo objetivo de longo prazo. O Bitcoin foi muito importante pois transformou R$50.000,00 em quase 1.5mi de reais hoje.

Ao longo da sua jornada pela independência financeira devem ter ocorrido muitos erros, além dos acertos. Tem algo que você se arrepende de ter feito?

 Como eu estudei muito sobre investimentos acabei em alguns momentos complicando demais meu portfólio. Manter ele simples não só libera tempo para outras coisas como te blinda de cometer diversos erros emocionais que a gente acha que nunca vai cometer, isso sem nenhum prejuízo de rentabilidade.

Você tem uma carteira um tanto incomum. Renda fixa, Bitcoin e ETFs no exterior. Não tem nada na renda variável no Brasil. Mesmo com toda o euforia do mercado com o novo governo. Você não vê com o Ibovespa com otimismo?

Eu tecnicamente tenho alguma bobagem em renda variável, pois possuo o ETF EIMI que investe pouco menos de 10% na renda variável brasileira, mas realmente é um percentual desprezível no geral. Eu acredito que toda renda variável em condições normais tem uma expectativa de retorno maior que qualquer renda fixa, portanto acredito sim que o índice Ibovespa ou IBRX-50 terá retorno superior ao Tesouro Direto no longo prazo. No meu caso, a rentabilidade da renda fixa é mais do que suficiente para me sustentar, então não tenho razão em correr esse risco aqui no Brasil.

Lendo seu blog, vemos que você não faz mais aportes no Brasil, direcionando todos os novos aportes para ETFs no exterior. Isso porque você já possui renda passiva suficiente no país. Mas caso fosse investir no país, quais ativos você veria como mais atrativos?

A renda fixa aqui no Brasil continua sendo algo maravilhoso. Pense que a NTNB dos EUA (TIPS) rende 1-1.25% a.a., mesmo com vencimento em 30 anos, enquanto aqui no Brasil paga-se hoje até 5,1% a.a., sendo que as taxas são comparáveis pois apesar do real ser mais fraco paga-se mais em inflação. Acima dessa taxa ainda podemos comprar títulos de bancos médios pra aumentar essa taxa em 1-2% com a proteção do FGC. É uma taxa absurdamente alta dado que quase nenhum país consegue sustentar retornos reais em renda variável acima de 6% a.a.

Agora vamos para perguntas mais relacionadas diretamente às criptomoedas. Como você conheceu o Bitcoin?

Conheci pela internet durante o trabalho, não lembro o ano mas foi bem no início. Lembro de ter lido a respeito, cheguei a baixar uma carteira no computador da empresa mas me desinteressei. Anos depois um amigo falou comigo sobre Bitcoin, mas só fui investir de verdade mesmo um bom tempo depois.

Hoje, acredito que você pode ser considerado um early adopter do Bitcoin. O que levou você a comprar bitcoin?

Eu definitivamente não me considero early adopter. Conheço várias pessoas que compraram a centavos, dezenas de reais. Eu comprei os meus apenas a R$1000,00-R$1100,00. Além da influência de um amigo, as próprias características do Bitcoin motivaram meu investimento. A ideia fez sentido pra mim diante do poder que o cidadão comum passa a ter contra a coerção monetária estatal.

Inicialmente, qual foi o percentual do seu portfólio investido em Bitcoin? Como chegou a esse valor?

Investi aproximadamente R$50.000,00 em Bitcoins, que na época era 2-3% do meu portfólio. Imaginei que se o Bitcoin fosse a 0 não iria me empobrecer, e se o Bitcoin explodisse iria turbinar meu portfólio a novos patamares, como foi o caso.

Por que você mantém um percentual tão alto de Bitcoin na sua carteira (25%)? Seria uma forma de diversificação ou você acredita numa valorização?

Foi fruto da própria valorização da moeda. Já fiz diversas vendas mas continuo com número de bitcoins superior ao que comecei por conta das conversões dos forks. A ideia é chegar a 10% do portfólio com o decorrer dos anos.

Apesar de algumas vendas que você já fez, sua quantidade de bitcoins está sempre aumentando por conta dessas conversões dos forks. Como é sua estratégia com relação à esses forks do bitcoin?

Muito simples: assim que está disponível eu vendo a totalidade do fork por Bitcoin.

Alguns forks, como o BCH e o BTG são muito fáceis de recuperar. Porém existem outros forks mais “obscuros” que são mais complicados para recuperar, como o Super Bitcoin (SBTC) por exemplo, que tem poucas (ou nenhuma) carteiras de qualidade disponíveis. Como você recupera esses forks? Você os ignora?

Eu não ignoro nenhum, isso é o equivalente a deixar dinheiro na mesa. Muitas vezes tive que baixar wallets que só funcionavam no linux ou via script, cadastro em corretoras obscuras, etc. Agilidade nesse ponto é fundamental, pois o preço da quase totalidade dos forks caem brutalmente de forma muito rápida.

Qual a sua opinião sobre o Ethereum?

Eu conheço muito pouco sobre Ethereum pra poder opinar a respeito. De forma extremamente superficial eu não gosto da falta de limite da moeda. Não faz sentido a meu ver ter uma criptomoeda sujeita a arroubos inflacionários como uma fiat qualquer.

E para finalizar: Aos entusiastas de criptomoedas que tiveram algum lucro, você pode dar alguma orientação na elaboração de uma carteira de investimentos tradicionais?

 O mais importante é ter a humildade de não achar que é mais inteligente que o mercado. Utilizar sempre ferramentas passivas a um nível de risco adequado que permita que você durma tranquilamente e não venda na queda. Isso inclui evitar comprar ações individuais e fundos com administração ativa.

 

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Marcello
Marcello
Escreve sobre a tecnologia, blockchain, investimentos e notícias sobre criptomoedas. Certificado (CBP) pelo CryptoCurrency Certification Consortium (C4).

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