Fundador da FTX culpa namorada e clientes, e é aplaudido em evento

A aparição de BSF em um evento do The New York Times foi importante como uma forma de o público ver ele respondendo perguntas diretamente sobre o caso. Mas isso não significa que todo mundo gostou da ideia.

A recente queda da FTX foi um dos maiores eventos (negativos) do mercado de criptomoedas, criando um efeito dominó que derrubou outras empresas e, principalmente, arruinou a vida de muitas pessoas. A peça chave para todo o escândalo é Sam Bankman-Fried (SBF), o fundador da empresa, tido por muitos como um golpista que propositalmente enganou seus clientes.

Com isso, muitos estavam esperando a primeira declaração oficial em entrevista de SBF, que aconteceu em um painel ao vivo do New York Times. A conversa de mais de 1h abordou diferentes assuntos, incluindo a culpabilidade no caso da corretora.

A entrevista, no entanto, não foi bem vista por parte da comunidade, que acredita que o The New York Times continua minimizando o papel de SBF no colapso da corretora.

O que todos querem saber: O que aconteceu com a FTX?

A entrevista, conduzida por Andrew R. Sorkin, do The New York Times, primeiro justificou o seu próprio motivo. Com Sorkin falando que muitas pessoas entraram em contato com ele afirmando que o evento não deveria acontecer, mas que, como jornalista, essa é uma entrevista necessária.

Após a sua justificativa, Sorkin fez a mais importante pergunta, citando que o público tem duas percepções: A de que Bankman cometeu terríveis erros ou a de que ele cometeu uma fraude gigantesca e que a FTX era um esquema de pirâmide. Então, o que realmente aconteceu?

“No fim do dia, eu era o CEO da FTX e isso quer dizer que, seja lá o que aconteceu, quando aconteceu, eu tinha um dever, um dever com todos os nossos acionistas, todos os nossos clientes, nossos credores, eu tinha um dever com os nossos funcionários e investidores, com os reguladores ao redor do mundo”, disse bankman-fried.

SBF afirmou que ele cometeu, sim, muitos erros, mas que em momento nenhum ele tinha a intenção de cometer qualquer tipo de fraude ou enganar seus investidores. E que o que aconteceu com a FTX foi um “grande choque”, afirmando que, se pudesse, teria feito as coisas diferentes.

Bankman-Fried faz um mea-culpa da situação e assumiu a responsabilidade pelo que aconteceu, mas não de verdade. Ele apenas assumiu que, como gerente da FTX, deveria ter tomado mais cuidado e apenas isso. Quando, na verdade, há muito mais culpa em cima da diretoria da FTX, a emissão do FTT e as decisões que todas as entidades tomaram.

A FTX, antes da sua falência, atuou com reservas fracionadas, “investindo” o valor de seus clientes para cobrir erros da Alameda Research e até mesmo usando o FTT, sua moeda própria, como colateral para empréstimos, o que é, no mínimo, extremamente arriscado.

SBF joga culpa no colo da namorada

Logo após a primeira pergunta, Sorkin leu uma carta de um investidor que perdeu tudo na FTX, cobrando explicações à SBF sobre a relação da FTX com a Alameda, que acabou  sendo o gatilho do colapso de todo o sistema da corretora.

“Andrew, por favor, pergunte a SBF por que ele decidiu roubar todas as minhas economias e os US$ 10 bilhões de seus clientes para dar para o seu hedge fund Alameda. Por que o hedge fund estava apostando em shitcoins”, falou o entrevistador.

A pergunta do investidor é a de muitos (talvez todos) os investidores que perderam dinheiro com a corretora. Acusando a Alameda (que é da FTX) de tomar decisões tão terríveis que parecem deliberadas, e a FTX de roubar seus clientes para cobrir o rombo da Alameda.

E é justamente a Alameda que Bankman-Fried jogou debaixo do ônibus durante a entrevista, culpando o braço da FTX diretamente pelos problemas que aconteceram com toda a empresa.

A namorada do fundador da FTX, Caroline Ellison, era CEO da empresa de comércio de criptomoedas Alameda Research.

Inicialmente SBF diferenciou a versão para os EUA da Alameda e a Internacional, que foi quem fez toda a besteira. Ele até mesmo afirma que a plataforma para clientes americanos ainda está completamente solvente e que poderia voltar a realizar saques sem problemas.

Ele explicou que a Alameda (internacional) era uma plataforma de derivativos e que, todos os clientes, de certa forma, estavam investindo como um colateral para o valor que iria em uma posição feita pela companhia. “Basicamente, há um ano a Alameda tinha, eu acho, cerca de 10% de alavancagem, cerca de 10 vezes o número de ativos que ela estava posicionada.” 

No entanto, a culpa da Alameda não é verdadeiramente dela, mas sim do mercado (claro).

“Durante o andamento do último ano aconteceu uma série de quedas do mercado que fez com que o preço dos ativos despencasse e que a alavancagem subisse (…) Eu acredito que mais de US$ 10 bilhões foram limpos do mercado e, realisticamente falando, a FTX não tinha habilidade para liquidar todas as posições e gerar tudo o que era devido”, explicou.

Com isso, a culpa ficou totalmente nas costas da Alameda, controlada por sua namorada, e a FTX apenas não teve o que fazer diante de toda a situação. No entanto, vale lembrar que a relação entre Sam e Caroline Ellison, parecia ser muito mais estranha do que inicialmente muitos imaginaram.

Além disso, há também o fato de que a Alameda usou um “empréstimo” da FTX para cobrir seu rombo, empréstimo que muitos consideram um roubo do dinheiro dos clientes da exchange.

SBF culpa clientes por não lerem termos de serviço

Uma das partes mais importantes de toda essa história é o “empréstimo” da FTX para a Alameda, o que acabou afetando diretamente clientes, como a carta lida sabiamente colocou em foco durante a entrevista. Para isso, SBF disse que não misturou as finanças das duas empresas de propósito.

O entrevistador destacou que a carta deixava claro que parte dos termos de serviço da FTX deixava “óbvio” que a corretora não iria praticar reserva fracionada ou utilizar o dinheiro dos clientes.

O termo afirma que “…nenhum dos ativos digitais em sua conta é de propriedade ou deve ou pode ser emprestado à FTX Trading. A FTX Trading não representou ou tratou ativos digitais e contas de usuários como pertencentes à FTX Trading.’ 

Sendo assim, então como é possível que a Alameda tivesse recebido um empréstimo tão grande da FTX usando exatamente o dinheiro que a corretora tinha em suas reservas, dinheiro que conta também com o investimento dos clientes.

A primeira resposta a pergunta por SBF foi justamente culpar os clientes por não terem lido corretamente os termos de serviço, onde a corretora afirma que era possível usar suas reservas, o dinheiro dos outros, como colateral em diferentes situações.

“Mas havia várias outras partes dos termos, pois há várias outras partes da plataforma além disso, há o mecanismo de empréstimo do mutuário, onde os usuários emprestam bilhões de dólares em ativos uns aos outros, você sabe, garantidos por ativos na bolsa (…)”

Felizmente, o entrevistador não estava tão do lado de Bankman-Fried como muitos imaginaram que ele estaria. Ele então pergunta diretamente: Vamos esclarecer uma coisa. Houve mistura de fundos?

Mistura de Fundos ou Commingle, em inglês, é quando empresas acabam misturando e complicando suas reservas. E a resposta de SBF?

“Eu não misturei fundos intencionalmente.”

Entre, “não misturei fundos intencionalmente” e “eu não sabia o quão alavancado a Alameda estava”, temos a imagem de um CEO incompetente. Que pode até não ter cometido uma fraude, mas por completa falta de observação e responsabilidade, deixou que milhares, talvez milhões, perdessem dinheiro.

Uma salva de palmas para um golpista

A aparição de BSF em um evento do The New York Times foi importante como uma forma de o público ver ele respondendo perguntas diretamente sobre o caso. Mas isso não significa que todo mundo gostou da ideia.

Alguns, na verdade, acharam de mau gosto essa participação.

“Como esse cara roubou bilhões de dólares e agora está dando entrevista em um fórum como um homem livre?”

“SBF precisa ser preso! The New York Time: O Melhor que posso fazer é uma palestra paga.”

Mas algo que parece ter incomodado muitos é o fato dos aplausos ao final da apresentação, o que, sejamos sinceros, é algo comum em qualquer evento assim, mas com certeza de mau gosto, principalmente para quem foi prejudicado por SBF.

Pois é.

A entrevista de Bankman-Fried tem muito mais a dizer, com mais de 1h10m de conteúdo. A sua parte mais importante é o começo que cobrimos neste artigo, mas caso você queria ver ela na íntegra, o vídeo está completo no canal do The New York Times:

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Matheus Henrique
Matheus Henrique
Fã do Bitcoin e defensor de um futuro descentralizado. Cursou Ciência da Computação, formado em Técnico de Computação e nunca deixou de acompanhar as novas tecnologias disponíveis no mercado. Interessado no Bitcoin, na blockchain e nos avanços da descentralização e seus casos de uso.

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