Após o envio de uma transação experimental de Bitcoin à lua, alguns radioamadores contestaram o feito, uns alegando a capacidade técnica para o ato, outros alegando a incapacidade legal.
De fato, o feito que parece ser tão absurdo assim, tem base amparada por outros, apesar de poucos, radioamadores que lograram êxito com baixa potência e antenas mais simples, conforme nossa redação pode averiguar em vídeos (1 e 2) e documentos científicos de experimentos similares (aqui e aqui).
Entre as discussões mais acirradas estavam: suposição de uso pecuniário do rádio, habilitação para operar nas faixas do radioamador e levantamentos de ordem técnica.
Cabe a pergunta, se houve o experimento, a discussão se teve fim pecuniário ou não, foi exaurida no debate sobre o que é um arquivo PSBT.
O arquivo enviado não é o Bitcoin, portanto não foi enviado dinheiro, até porque nem o Banco Central reconhece Bitcoin como moeda, apenas para fins de tributação. E se não houve o experimento, como alguns radioamadores afirmam em estudos técnicos, nenhuma questão legal entraria em pauta.
A matéria “Brasileiros enviam Bitcoin à lua na frente de Elon Musk” foi publicada em primeira mão pelo Livecoins, demonstrando como uma transação usou a técnica EME (Earth-Moon-Earth). Ao ver a publicação, alguns grupos de radioamadores contestaram as técnicas empregadas no experimento.
Problema das críticas é antigo na comunidade de radioamadores brasileira: democratização do rádio
O uso dos rádios ganharam ampla adoção após o final da Primeira Guerra Mundial, visto haver um excesso de equipamentos adquirido para fins militares, mas que passaram a tocar músicas.
No Brasil, em 1922, na comemoração do centenário da Independência Brasileira, o Presidente Epitácio Pessoa transmitiu um discurso nacional, diretamente do Rio de Janeiro.
O que pode parecer uma simples briga de egos nas associações e minúcias técnicas de radioamadores, traz a tona um problema antigo no radioamadorismo: a democratização do rádio.
De um lado a Anatel promovendo ações para popularizar o acesso à ferramenta, do outro as organizações civis de radioamadores coibindo a expansão das faixas à população.
Segundo Marcio Gandra, que conduziu os experimentos de Bitcoin na lua, há um debate acerca disso onde as opiniões parecem ser unânimes quanto a dificuldade que associações criam para que as pessoas possam utilizar dessa ferramenta de comunicação tão poderosa.
O entusiasta do Bitcoin, que é Classe C no radioamadorismo, citou que falta de democratização do radio vem desde sua gênese no Brasil. Ele lembrou que pelos idos de 1900, o rádio galena, famoso por funcionar sem energia elétrica, apenas com a energia eletromagnética da própria onda, chegou a inclusive ser proibido no país, sendo novamente liberado em 1934.
Márcio destacou que isso impediu que muitos projetos que poderiam ser utilizados como meio de educação e justiça social fossem adiante de maneira mais ampla, atingindo até mesmo aqueles sem condições de ter energia em casa, como era comum nos tempos do lampião de querosene, como a rádio fundada por Edgard Roquette Pinto e Henrique Morize, em 1923.
No entanto, o entusiasta que realizou o experimento inédito com Bitcoin no Brasil afirmou que a Anatel, Agencia Nacional de Telecomunicações, já caminha em sentido favorável a adoção pelas massas.
A faixa do radio PX, por exemplo, já foi incluída na dispensa de prova e demais exigências. Nos últimos dias, Márcio falou sobre os ataques que sofreu após a matéria inicial do Livecoins.
Como começaram as críticas? O que dizem alguns radioamadores?
Assim que a matéria veiculada apresentou os detalhes do uso de Bitcoin pelo radioamador, outros clubes e associações começaram a duvidar dos feitos do grupo.
Em uma publicação em um site de um dos grupos, por exemplo, atualizada no último sábado (12), o autor afirma que o envio de Bitcoin pela técnica emprega é falso. Após estudos, análises de alguns grupos de radioamadorismo brasileiro, o artigo contesta a veracidade das informações compartilhadas pelos entusiastas do Bitcoin no Brasil.
As contestações se baseiam na parte técnica empregada, e na legalidade, que poderia ter sido violada.
Para Márcio, como o Bitcoin não é reconhecido como moeda, um dos argumentos de críticas, deixa de se sustentar.
“Nós estamos no Bitcoin construindo um ecosistema, um dos mais fortes e libertários já construídos. Não estamos por hobby nem por diversão.”