Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, respondeu perguntas sobre o futuro da regulamentação das stablecoins no país. Suas falas ocorreram na manhã desta quinta-feira (12), dois dias após apresentar a situação da TerraUSD (UST) aos congressistas americanos.
Embora os riscos de instabilidade financeira nos EUA fossem o principal assunto da reunião, a curiosidade sobre as stablecoins rapidamente veio a tona, tornando-se a pauta mais discutida da sessão.
Além disso, Yellen também falou sobre a CBDC dos EUA, o dólar digital. Pelo tom de sua fala, é difícil que o governo lance tal produto, afinal ainda está preocupado com os riscos associados ao mesmo.
Stablecoins são ameaças para estabilidade financeira dos EUA
Ao ser questionada sobre a posição do governo para garantir que as stablecoins não sejam uma ameaça a economia americana, Janet Yellen afirmou que eles estão trabalhando pesado nisso e que um grupo destinado ao assunto está preparando recomendações para o congresso.
“Existem inovações potencialmente úteis que podem tornar os sistemas de pagamento mais rápidos e eficientes, mas realmente precisamos de uma estrutura regulatória.”
Seguindo, Yellen novamente citou o caso da TerraUSD (UST) como uma “demonstração dos riscos das stablecoins”. Indo além, também mostrou conhecimento sobre estes ativos, classificando a UST como uma stablecoin algorítmica. Seguindo, a secretária do Tesouro também notou que até mesmo a Tether (USDT) chegou a perder a paridade com o dólar nesta manhã.
“Ontem e nesta manhã, a maior stablecoin — Tether — também ‘quebrou o livro’ por alguns instantes.”
Regulamentação similar a de bancos
Seguindo, o foco do assunto muda para como será a abordagem destas regulamentações. Para Yellen, é importante que estas novas leis protejam os usuários destas tecnologias, ao mesmo tempo que não impeçam a indústria de continuar crescendo.
“Penso que criar uma estrutura regulatória, que seja apropriada aos riscos que as stablecoins representam, realmente forneça o que os emissores de stablecoins precisam para prosperar e inovar.”
Interrompendo Yellen, o congressista Patrick McHenry nota que uma stablecoin com lastro em ativos líquidos não enfrentaria uma corrida aos bancos — evento onde muitas pessoas se desfazem de suas moedas em simultâneo, derrubando seus preços como aconteceu com a TerraUSD (UST). Portanto, parece haver amplo interesse em deixar que estas moedas existam, caso minimizem os riscos.
“Porém com lastro em 1:1, conforme o grupo está diz, com ativos de alta liquidez e qualidade, você não tem corridas caso você tiver lastro em 1:1 em dinheiro, ou equivalentes.”
Seguindo, chegamos ao ponto mais interessante da conversa: como os EUA pensam em regular as stablecoins. Segundo Yellen, o governo está trabalhando em uma estrutura similar as que cobrem o setor bancário atualmente.
“O grupo que está trabalhando nisso considerou diferentes alternativas e de forma unânime recomendou o estabelecimento de estruturas regulatórias de bancos para regular as stablecoins. É uma estrutura flexível e envolve requisitos adequados de capital e liquidez.”
Dólar digital também é um perigo
Outro ponto discutido foi a criação do dólar digital, a moeda digital de banco central (CBDC) dos EUA. Além de destacar que as stablecoins ainda não são um grande risco, devido ao seu pequeno tamanho e adoção, Yellen nota que o próprio dólar digital pode ser uma ameaça.
“Eu não as classificaria, nessa escala, como uma ameaça real à estabilidade financeira, mas elas estão crescendo muito rapidamente e apresentam o mesmo tipo de risco que conhecemos há séculos nas corridas aos bancos.”
“Há uma razão para querer ter uma CBDC, mas também existem preocupações, pois, dependendo como for feita, podem ter impactos significativos na intermediação financeira.”
Por fim, é difícil saber quais impactos tal estrutura regulatória sobre as stablecoins terá no mercado das criptomoedas, afinal é algo inédito. Portanto, o assunto merece a atenção do mercado. Quanto ao dólar digital, é difícil que os EUA entreguem este produto tão cedo, afinal estão mais preocupados com seus riscos do que focados em seus benefícios.
