Em época de disparada de preços de itens da cesta básica, uma moeda digital brasileira tem dado um alívio para o bolso da pensionista do INSS Dorotea de Oliveira Ferreira, 55, que vive em Maricá, município a cerca de 60 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro.
Desde 2013, o município disponibiliza para seus moradores de baixa renda a mumbuca, uma moeda digital que pode ser usada em 75% dos 11 mil estabelecimentos comerciais do local. Mercados, farmácias e até peixarias, por exemplo, aceitam o ativo.
Cada beneficiário, durante a pandemia do coronavírus, recebe R$ 300 em moedas digitais.
“Com minhas mumbucas, compro arroz e feijão e outros mantimentos para a casa. Utilizo as moedas digitais até para comprar remédios, pois tenho deficiência visual”, disse Dorotea ao Livecoins.
Para ter acesso aos ativos digitais, o morador de Maricá deve comprovar que vive no município há mais de três anos. Além disso, precisa estar registrado no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal) e ter renda familiar de até três salários mínimos.
Dorotea, por exemplo, é mãe de três filhos. Ela disse que se mudou para Maricá há 15 anos. Antes, vivia com a família em uma comunidade de Teresópolis, município localizado a 96 quilômetros do Rio de Janeiro. “Me mudei para Maricá para tentar dar uma vida melhor para a minha família”, falou.
Por causa de um problema grave na visão, ela não pode trabalhador. Por isso, passou a ser pensionista do INSS e receber auxílio-doença do governo federal. “Nesse período de pandemia, e de alta de preços, o acréscimo que recebo em mumbuca tem sido uma ajuda e tanto”, disse.
Além de Dorotea, outros 42,5 mil moradores de Maricá – o que representa um quarto da população da cidade – também recebem as moedas digitais.
Os ativos são depositados no cartão Mumbuca, disponibilizado pela prefeitura. Os moradores também podem movimentar suas mumbucas por meio de um aplicativo, que funciona como o PicPay.
De acordo com o secretário de desenvolvimento econômico de Maricá, Magnun Amado, nos últimos seis meses o município depositou R$ 12,5 milhões de mumbucas para seus moradores.
“O mais interessante é que essa moeda digital não sai de Maricá. O que a gente investe aqui é consumido aqui. Isso está estimulando novos serviços, novos comércios e gerando ainda mais renda para a população”, disse Amado Livecoins.
Todo o custeio do programa, ainda de acordo com o secretário, só é possível porque a cidade recebe verbas da extração do petróleo. O campo de Lula, campo petrolífero considerado um dos mais produtivos do Brasil, fica na região.
Por causa de suas moedas digitais, o município de Maricá tem sido retratado pela imprensa internacional como um laboratório de renda básica universal.
Em maio, por exemplo, a revista Americas Quarterly contou um pouco do projeto da cidade na matéria “A (silenciosa) experimentação de uma cidade brasileira com a renda básica”.
De acordo com Fábio Waltenberg, professor de Economia da UFF (Universidade Federal Fluminense), o programa do município servirá de exemplo para o mundo.
“Maricá nos permitirá avaliar o impacto da renda garantida na inflação, no emprego, nos padrões de consumo e até na saúde física e mental”, disse à publicação norte-americana.
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