Em conversa com o canal The Stakeborg Talks, Vitalik Buterin, criador do Ethereum, falou sobre suas visões políticas, seu início no mundo das criptomoedas como redator, o surgimento do Ethereum e o que ele faria de diferente no Bitcoin.
Vitalik atacou o Proof of Work, dizendo que ele faz mal para o meio ambiente, que a mineração por ASICs é centralizada quando comparado a mineração no início da história do Bitcoin.
O criador do Ethereum também comentou sobre a divergência cultural que existe no mundo das criptomoedas, enquanto alguns estão focados em termos monetários como controle de oferta, outros estão preocupados com a descentralização e outros com seu uso como meio de pagamento, seja com criptos ou stablecoins.
Libertário
Vitalik também falou sobre as suas opiniões políticas, dizendo que busca soluções para criar modelos de governos descentralizados. O assunto se estendeu a DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas) no final da conversa, onde Vitalik acredita que as DAOs terão um crescimento no futuro porém há vários tipos delas com diferentes propósitos.
De origem russa e tendo nascido poucos anos após a queda da URSS, Vitalik refletiu sobre sua visão libertária ter relação com essa Era. Segundo ele, seu pai o influenciou muito porém o Bitcoin teve ainda mais impacto já que em seu início, em 2010, havia muitas discussões sobre tecnologia, softwares de código aberto, economia e política.
O criado do Ethereum também lembrou dos anos que escreveu artigos sobre o Bitcoin para a Bitcoin Magazine, site no qual ele é co-fundador ao lado de Mihai Alisie, dizendo que este experiência permitiu que ele se aprofundasse neste mundo.
Ethereum
Conforme Vitalik se aprofundava nas criptomoedas, principalmente após conhecer as pessoas envolvidas com a Mastercoin e a pensar nos problemas do Bitcoin de forma mais profunda, Vitalik dava início ao Ethereum.
Ao ser questionado se ele e a equipe fundadora do Ethereum estavam sentindo que estavam impactando a história do mundo com a criação do protocolo, Vitalik mostrou que não estava tão certo no começo, pois conforme escrevia o whitepaper, acreditava que eles trabalhariam no projeto por alguns meses e então ele voltaria para a faculdade.
“Quando eu estava escrevendo o whitepaper, eu não tinha certeza, eu estava apenas esperando que seria um projeto onde trabalharíamos por alguns meses e então eu voltaria para a faculdade.”
Vitalik também lembrou que as conferências de Bitcoin foram muito importantes para o Ethereum, principalmente uma em Miami na qual várias pessoas mostraram-se interessadas no projeto ao realizar perguntas. Percebendo, neste ponto, que o Ethereum seria algo realmente grande para o cripto-espaço.
Ele também lembra que foi uma surpresa ter arrecadado 18 milhões de dólares para o desenvolvimento do Ethereum, lembrando que seis meses após esta venda, este número parecia impossível. Hoje o valor de mercado do ETH é de 2,2 trilhões de reais.
Bitcoin
Após o entrevistador pedir o que Vitalik faria de diferente caso estivesse na pele de Satoshi Nakamoto em 2009 tendo o conhecimento que tem hoje, Vitalik expressou a sua opinião.
“[hoje] nós sabemos como fazer um Proof of Stake (PoS) bem, o Proof of Work (PoW) faz muito sentido como um modelo muito democrático para começar um sistema mas nós sabemos que no longo prazo há outras soluções mais baratas que são melhores para o meio ambiente e todas essas coisas.”
Vitalik também mencionou outras questões técnicas como linguagens de script que poderiam trazer mais usos ao Bitcoin, prova de conhecimento zero (zero knowledge proofs) para melhorar o anonimato. Segundo o criador do Ethereum, estas coisas que sabemos hoje poderiam ter feito o Bitcoin mais poderoso caso este conhecimento estivesse disponível em 2009.
Continuando seu pensamento, apesar de admitir que já haja um melhor entendimento sobre o PoS, Vitalik disse que mesmo assim criaria o Bitcoin como um PoW caso fosse Satoshi.
“Eu provavelmente usaria PoW nos primeiros cinco anos e PoS depois, acho que o PoW foi bom nos primeiros cinco anos, pois é uma forma democrática de distribuir as moedas, agora nós temos ASICs e a mineração é muito centralizada, mas naquela época qualquer pessoa com uma CPU poderia minerar por dois anos, e depois disso qualquer pessoa com uma GPU poderia minerar por outros dois anos, então eu acho que gosto do fato de que Bitcoin fosse PoW no início, era muito importante e bom, e até mesmo o fato de que o Ethereum teve cerca de 40% de sua oferta oriunda do PoW, eu acho que isso também ajudou a distribuir as moedas mas a longo prazo, à medida isso que passa de uma coisa muito pequena para algo global, eu definitivamente acho que o PoS é muito melhor”, disse Vitalik Buterin
Criptomoedas como uma cultura
Ele também fez questão de lembrar que o Ethereum também tem problemas, principalmente relacionados as taxas altas de transação devido ao seu uso. Mencionando a concorrente Solana, Vitalik mostrou-se preocupado que o Ethereum seja lembrado como uma moeda para “pessoas ricas”, devido as suas altas taxas, fazendo uma ponte entre a tecnologia e a cultura onde a forma como um código é feito reflete em quais pessoas usarão tal protocolo.
Ainda sobre cultura, Vitalik expressa que há pensamentos diferentes tanto em desenvolvedores quanto em seus usuários. Isso torna as tomadas de decisões mais difíceis, usando o fork do Bitcoin como exemplo, onde a comunidade do BTC escolheu que ser uma reserva de valor é mais importante que ser um meio de transferência, como no caso do BCH com o seu aumento de blocos.
“Qualquer pessoa que esteja criando uma blockchain deveria pensar sobre cultura e tecnologia de forma muito séria”
Em relação à história, Vitalik acredita que as blockchains estão se tornando um novo marco conforme elas não estão ligadas a nenhum país, e por conta disso, ao contrário de empresas como Twitter e Facebook, protocolos como o Bitcoin e o Ethereum não vão lhe censurar.
Sendo confiáveis globalmente, principalmente em termos de economia, e atuando como uma evolução dos softwares de código aberto já que alguns países criam leis, ou até mesmo impostos mais caros, relacionadas a compra de produtos estrangeiros.