Donald Trump, eleito presidente dos EUA nas últimas eleições, apontou Howard Lutnick para o cargo de secretário do comércio do Tesouro americano. A nomeação do executivo aproxima a Tether, emissora da stablecoin USDT, ao novo governo.
CEO da Cantor Fitzgerald, Lutnick é um dos executivos mais famosos dos EUA. Isso porque 658 de seus funcionários morreram durante o ataque de 11 de setembro de 2001, mas ele conseguiu reerguer sua empresa.
Já a sua relação com a Tether é mais recente, embora grande. Segundo matéria publicada pelo The Wall Street Journal no sábado (23), a Cantor Fitzgerald “detém a maior parte dos US$ 134 bilhões dos ativos da Tether”, sendo a maioria em títulos do Tesouro.
Em troca, a empresa de Lutnick ganharia milhões de dólares em taxas anuais administrativas, disseram as fontes.
Indo além, a Cantor Fitzgerald também teria fechado um acordo no último ano que lhe garantia cerca de 5% das ações da Tether, o que estaria avaliado em US$ 600 mlhões.
Howard Lutnick é um grande defensor da Tether
Além de Donald Trump, Howard Lutnick foi um dos destaques da conferência Bitcoin 2024, realizada em Nashville, nos EUA, em julho de 2024. Em sua apresentação de 20 minutos, o executivo focou justamente na Tether, defendendo-a dos ataques sofridos nos últimos anos.
“Conheci os donos da Tether. Naquela época, havia todos esses críticos na mídia, e todos diziam a mesma coisa: que [a Tether] não tinha o dinheiro [que dava lastro aos seus tokens] e que era um esquema Ponzi.”
Um dos artigos mais famosos foi publicado pela Bloomberg. Intitulado “Alguém viu os bilhões da Tether”, a gigante questionava se o USDT possuía lastro ou se estava operando com reservas fracionárias.
“Então, conheci Giancarlo [Devasini] e basicamente disse uma frase de um filme para ele: “Mostre-me o dinheiro. Vocês têm o dinheiro?” Ele disse que sim, e eles nos deram acesso total para realizar a diligência, permitindo verificar e provar que tinham o dinheiro”, continuou Lutnick.
“Posso garantir que encontramos todo o dinheiro, cada centavo. Mas eles o mantinham em lugares, digamos, bem exóticos. Na época, eles tinham papel comercial chinês e outros investimentos. Lembre-se, as taxas de juros eram zero, e eles precisavam encontrar formas de obter rendimento, o que fizeram.”
Na data das acusações, a China passava por uma crise financeira que levou gigantes à falência. A Tether negou ter exposição à Evergrande, uma das mais afetadas pela quebradeira.
Desde que o Banco Central dos EUA elevou às taxas de juros, a Tether então migrou quase todos seus investimentos que dão lastro ao USDT para títulos do Tesouro americano.
A partir dessa data, a empresa começou a apresentar lucros trimestrais na casa dos bilhões de dólares e fortaleceu a confiança do mercado sobre suas operações.
Entrada de Lutnick no governo americano pode aliviar pressão sobre a Tether
Fora a desconfiança do mercado e da mídia, a Tether enfrenta diversas outras acusações. Isso inclui, por exemplo, insinuações de que sua stablecoin estaria sendo usada por grupos terroristas.
Dado a história da Cantor Fitzgerald, empresa que mais perdeu funcionários durante o ataque terrorista de 11 de setembro, seria difícil imaginar que ela faria negócios com alguém que tivesse apoiando esses grupos. Além disso, a Tether já congelou US$ 1,3 bilhão de USDT a pedido de governos.
Agora a nomeação de Howard Lutnick ao cargo de secretário do comércio do Tesouro dos EUA deve blindar ainda mais a Tether dessa pressão regulatória. O executivo disse que abandonará seu cargo de CEO da Cantor Fitzgerald assim que sua nomeação foi confirmada.
Já a Tether, em comentário ao WSJ, afirmou que “o relacionamento da Tether com a Cantor é inteiramente profissional, baseado na gestão de reservas” e que “a alegação de que o envolvimento de Lutnick em uma equipe de transição se traduz em influência sobre ações regulatórias é ridícula”.
Com um valor de mercado de US$ 132 bilhões, hoje a Tether é a terceira maior criptomoeda do mercado, atrás apenas do Bitcoin e do Ethereum. Nas últimas 24 horas, a USDT possui um volume de US$ 164 bilhões, contra apenas US$ 60 bilhões do Bitcoin, sendo um dos pilares dessa indústria.
