Em uma palestra sobre “Moedas digitais e o futuro do sistema monetário”, o gerente geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Agustin Carstens, resumiu sua opinião sobre o Bitcoin. Ele disse nesta quarta-feira (27) que o Bitcoin é altamente especulativo, “intensamente dependente de energia”, carece de “respaldo de valor” e “pode muito bem se desintegrar completamente”.
Carstens abordou a digitalização de moedas nacionais por meio de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) e comentou sobre a emissão de stablecoins privadas, bem como sobre os desenvolvimentos recentes do Bitcoin.
Mostrando-se aberto ao conceito de CBDCs, Carstens compartilhou dados indicando que a probabilidade de bancos centrais de todo o mundo emitirem suas próprias moedas digitais está aumentando.
“Bitcoin pode se decompor completamente”
O desenvolvimento de CBDCs não deve ser visto como uma reação ao surgimento de criptomoedas ou projetos corporativos de stablecoins, mas sim como uma pesquisa pró-ativa em “uma nova forma de dinheiro […] de acordo com os mandatos do banco central”, disse.
E são os bancos centrais que devem emitir moedas digitais, de acordo com Agustín, já que “a moeda sólida é fundamental para nossa economia de mercado, e são os bancos centrais que estão em uma posição única para fornecê-la”.
“Os investidores devem estar cientes de que o Bitcoin pode se decompor completamente, porque o sistema se torna vulnerável à maioria dos ataques à medida que se aproxima de seu suprimento máximo de 21 milhões de moedas”, disse o gerente geral do BIS em um discurso para a Hoover Institution.
Stablecoins
As stablecoins também foram criticadas por Carsten. Apesar de ele ter reconhecido que “pode haver casos de uso significativos para stablecoins”, ele enfatizou que há “sérias preocupações de governança se uma entidade privada emitir sua própria moeda e for responsável por manter o respaldo de seus ativos”.
Carsten se referiu a moeda Diem do Facebook (anteriormente chamada de Libra) como exemplo, ele afirmou que stablecoins privadas “não podem servir de base para um sistema monetário sólido”, e que quaisquer stablecoins emitidas de forma privada devem estar sujeitas a regulamentação e supervisão pesada.
“Para que o dinheiro digital exista, o banco central deve desempenhar um papel central, garantindo a estabilidade do valor, garantindo a elasticidade da oferta agregada desse dinheiro e supervisionando a segurança geral do sistema”.
Inimigo do Bitcoin
Ainda assim, disse, as stablecoins privadas são “certamente mais confiáveis do que o Bitcoin”. Carstens descreveu o mecanismo de consenso do Bitcoin de forma bastante adequada, como um “sistema de governança descentralizado, onde a validade de um pagamento depende de alcançar consenso entre os participantes da rede sobre o que conta como pagamentos válidos.”
Na prática, porém, Carstens vê o Bitcoin como um “ativo especulativo”, não uma forma de dinheiro, referindo-se a ele como “Tesla sem os carros:”
“Os investidores ficam fascinados por isso, mas o valor real do apoio está faltando.”
Carstens também descreveu a rede do Bitcoin como uma “comunidade de jogadores online, que trocam dinheiro real por itens que só existem no espaço cibernético”.
Ele também acredita que o Bitcoin é uma “reserva de valor pobre” com uma estrutura de mercado opaca que está sujeita à manipulação de preços.
Esta não é a primeira vez que Carstens critica a moeda digital, em 2018 ele afirmou que o “Bitcoin é uma combinação de bolha, ponzi e desastre ambiental.”
“Embora o Bitcoin talvez tenha a intenção de ser um sistema de pagamentos alternativos sem envolvimento do governo, ele se tornou uma combinação de uma bolha, um esquema Ponzi e um desastre ambiental.”
Apesar das críticas, em 11 anos de história o Bitcoin nunca sofreu um ataque bem sucedido devido a sua rede descentralizada que, diferente das afirmações de Carstens, só está aumentando e ficando cada dia mais segura.
A palestra de Cartens pode ser lida neste link.