Estudos estimam que a dívida global representa 355% do PIB mundial, ou seja, o boleto do cartão de crédito mundial é de aproximadamente 284 trilhões de dólares. Se este número ainda não é o suficiente para colocar uma expressão de espanto no seu rosto, saiba que ele ainda subestima a dívida do setor financeiro, pois o mesmo não leva em conta a falta de margem (uma fração do valor total dos ativos que são vendidos e que é deixado como uma garantia pelos investidores) das posições em aberto no mercado de derivativos, o que aumenta para 609 trilhões de dólares a dívida global, ou 761% do PIB mundial.
A falta de atenção a essa dívida financeira excessiva aumenta exponencialmente o risco sistêmico dos bancos comerciais, mostrando que todos os envolvidos subestimam esses valores astronômicos muito grosseiramente.
O crescimento da dívida corporativa principalmente nos mercados emergentes, como o Brasil, mantém a receita que foi utilizada para a crise asiática ocasionada na década de 1990.
Isso inevitavelmente cairá nos ombros dos governos que vão ter que resolver três problemas ao mesmo tempo: Socorrer os bancos privados, interromper uma grave recessão, além de continuar a inflar a base monetária para mostrar que o país está se enriquecendo ante aos demais.
Vale ressaltar que isso não é o que o autor deste artigo gostaria que acontecesse, mas é o que os governos fazem mundo afora, historicamente.
A próxima crise
Estamos empurrando com a barriga os problemas econômicos e financeiros, afinal, como muitos keynesianos e monetaristas dizem, a inflação reduz as obrigações da dívida no longo prazo.
O problema é que a mesma inflação aumenta o valor presente líquido das obrigações futuras, destruindo principalmente os países com um Estado inflado e aqueles que possuem um programa amplo de bem estar social. Isso culminará em um ponto onde não conseguiremos continuar porque nossa barriga está grande demais para andarmos.
Apesar de estarmos caminhando à beira do precipício, poucas pessoas vão conseguir atrelar os problemas atuais com as crises anteriores. A crise da Lehman Brothers foi impulsionada por um excesso de especulação imobiliária, empréstimos ruins e securitização inexistente.
A próxima provavelmente será uma crise de títulos, ações e devido à moeda, desencadeada pelo aumento dos rendimentos dos títulos, minando a pilha interminável de dívidas, que irá enfraquecer as várias moedas existentes, incluindo o dólar.
Somente os observadores filosóficos perceberão que essas crises acontecem constantemente a muito tempo, aproximadamente uma vez a cada dez anos. O elo comum é a dívida, fluindo e diminuindo em expansões periódicas seguidas por contrações repentinas do crédito bancário.
A dívida sempre esteve presente no livre mercado, principalmente para os empresários conseguirem cobrir por um período estipulado o capital de giro que vai do início do projeto até que consigam fazer suas vendas manterem o fluxo de capital girando, calculando cuidadosamente seu investimento a fim de pagar seus credores com seu lucro.
O problema foi que os financistas keynesianos e monetaristas viram isso como sendo um jeito simples de obter uma margem de lucro ainda maior, tomando empréstimos a fim de não financiar nada, apenas para alavancar os lucros e os extrair em forma de dividendos.
O financiamento saudável do capitalismo honesto, que tem como objetivo fornecer aos consumidores o que eles desejam e precisam, teve o seu lugar tomado pela corrupção facilitada das moedas fiduciárias que são emitidas pelos bancos centrais em quantidades cavalares a taxas de juros artificialmente baixas. A ideia de Micawber que dizia que a dívida é a mesma coisa que a miséria, foi trocada pela falácia de que a dívida é algo bom.
Moeda digital pode ser confiscada
Neste ínterim, seria de suma importância que os governos voltassem a ter uma austeridade fiscal e se possível parassem de imprimir moeda, a fim de manter uma economia saudável e uma base monetária ao menos estável.
Algumas pessoas ainda tinham uma minúscula fé de que isso fosse possível, no bom sentido, mas então, o Ministério do Comércio da China divulgou a alguns dias atrás o programa piloto para a sua CDBC, a moeda digital emitida pelo banco central do país.
No seu projeto, que agora está sendo expandido para várias áreas metropolitanas como Hong Kong e Pequim, o governo chinês salientou que está finalizando os preparativos para lançar o yuan digital, consolidando assim o seu status de pioneira das moedas digitais dos bancos centrais, enquanto os demais países estão fazendo testes embrionários.
Mas a sua utilização não fica apenas limitada ao território chinês. A empresa de mensageria financeira SWIFT confirmou que está trabalhando juntamente com o instituto de pesquisa chinês e o centro de compensação do banco central da China para que possam explorar a moeda digital chinesa globalmente.
Isso significa que o Banco Central do país poderá disponibilizar instantaneamente qualquer quantidade de dinheiro para qualquer pessoa ou empresa, significando o mesmo para caso a outra parte faça algo que os governos acreditem não ser legal.
De maneira geral, se você seguir os protocolos do governo, poderá ter dinheiro mais facilmente, e se não seguir, poderá ter seu dinheiro confiscado. Mas não é isso que faz com que a moeda digital chinesa consiga resolver o problema da dívida, mas o fato do dinheiro ser programável.
Dinheiro com prazo de validade
O governo do dito país testou o dinheiro utilizando datas de vencimento para incentivar os usuários a gastá-lo mais rapidamente, principalmente quando a economia precisa de um impulso extra.
Este é o sonho dos financistas atuais que faz com que o qualquer keynesiano possa ter um orgasmo de felicidade, pois assim, força toda uma sociedade a aumentar a velocidade média do dinheiro.
A utilização de uma data de expiração compensa a crescente petrificação do sistema monetário, onde as taxas negativas geram ainda mais poupança e não gastos, como os bancos centrais gostariam.
O problema é que a ameaça de confisco do dinheiro, que basicamente é o que a data de vencimento do dinheiro faz, irá desencadear gastos agressivos e eventualmente uma inflação galopante.
Ou seja, o governo não precisará mais imprimir toneladas de dinheiro todos os meses se preocupando como eles enxugariam a base monetária, poderão apenas imprimir dinheiro com data de validade, e quem tiver aquele dinheiro na data de expiração, terá seu patrimônio confiscado.
E se você está respirando aliviado porque o solo onde pisa é o deste Brasil varonil, lembre-se que a China está pronta para colocar o sistema no ar, sendo uma questão de tempo até que os outros bancos centrais dos demais países façam o mesmo.
Vale lembrar também que existe um acordo, que está programado para ter o seu lançamento em 2020, da criação da ISO 20.022 que nada mais é que um padrão universal de transações financeiras, tornando o pagamento em moedas digitais internacionalmente possível.
Bitcoin
Mas antes de você se desesperar, existe uma luz no fim do túnel para este apocalipse do dinheiro forte. Em uma conferência virtual da MarketWatch, a advogada Hester Peirce, membro da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, a SEC, que no Brasil seria como se fosse a CVM, disse que já passamos do momento em que poderíamos acabar com o Bitcoin, e que hoje isso só seria possível se todos os países desligassem a internet.
Para Peirce não existe jeito de banir o Bitcoin. É possível que os governos se esforcem para criar barreiras, mas é muito difícil impedir que as pessoas negociem a criptomoeda, por isso, ele acha que seria uma tolice o governo tentar qualquer medida seguindo este caminho.
Além disso, qualquer governo que pensassem em modos de criar barreiras para as criptomoedas, automaticamente eliminaria dois trilhões de dólares em riqueza altamente líquida, que nada mais é que a capitalização total do mercado de criptomoedas, um evento de profunda desalavancagem e de perda de inovação e investimentos do setor.
Essa declaração veio em resposta a Ray Dalio, um investidor bilionário que disse que existe uma grande probabilidade dos governos de todo o mundo banirem o Bitcoin e as demais criptomoedas.
Além disso, Christopher Cole da Artemis Capital disse que o Bitcoin surgiu como sendo uma ferramenta monetária, que suga o excesso de liquidez evitando bolhas em ativos ainda maiores e mais convencionais, como commodities, ações e imóveis.
Para ele, o Bitcoin ajuda o governo servindo como um captador de dinheiro para a classe média, fazendo com que a inflação flua para um ativo, que em suas palavras é “puramente especulativo”, evitando que seja absorvido por outros bens da economia.
Apesar disso, nenhuma das informações acima invalida a propriedade do Bitcoin.
Em um mundo com dívidas absurdamente altas e na iminência de se solucionar este problema com um dinheiro com data de expiração, o Bitcoin vem como refúgio para o patrimônio de toda a humanidade.
Ele já é uma tecnologia que não pode ser parada ou mesmo freada, além de servir como uma ferramenta para aqueles que não entenderam o motivo de ter sido criada.
O Bitcoin é o refúgio dos mandos e desmandos do Estado, garantindo que você mantenha a soberania do seu próprio dinheiro.
Ele continuará funcionando, mesmo com o contínuo aumento da dívida global, ou com a propagação do dinheiro com data de vencimento, e estará funcionando mesmo na derrocada dessas duas soluções ignóbeis, criadas em um contexto que foge dos princípios básicos da economia e dos ideais capitalistas.