Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, saiu em defesa das criptomoedas nesta quinta-feira (3) ao afirmar que “proibir que bancos tenham exposição a ativo virtual faz com que você tenha mais risco, não menos risco”.
Participando da Digital Assets Conference Brazil 2024 (DAC 2024), Campos Neto também falou sobre o crescimento das stablecoins em países emergentes. O motivo seria a fácil exposição ao dólar americano, com poucos custos.
Independente disso, vale lembrar que Campos Neto estará saindo de seu cargo no fim deste ano. Ele será substituído por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula em agosto.
Portanto, cabe observar qual será o pensamento da próxima gestão. Isso porque, Ilan Goldfajn, presidente do BCB entre 2016 e 2019, afirmava que o Bitcoin era “bolha e pirâmide” e as criptomoedas eram “um jogo especulativo”.
Roberto Campos Neto fala sobre mercado de criptomoedas
Agilizando sua fala, já que seu tempo de apresentação estava acabando, Roberto Campos Neto não conseguiu aprofundar seu pensamento sobre as criptomoedas. No entanto, deixou claro que a posição do Banco Central do Brasil é favorável a esses ativos.
“Aqui tem um debate grande nos Bancos Centrais, talvez a gente esteja um pouco a parte, um pouco longe da maioria”, disse Campos Neto sobre criptomoedas. “Nós somos um Banco Central que não somos favoráveis à proibição ou a movimentos contra os ativos virtuais, ao contrário, a gente acha que isso tem que fazer parte da base.”
“Eu acho que proibir que bancos tenham exposição a ativo virtual faz com que você, no final, tenha mais risco, não menos risco. Mas a gente é minoria, hoje o mundo está caminhando para ter mais restrições.”
Embora não tenha citado exemplos, vale lembrar que as duas maiores economias do mundo vão contra esse pensamento. Enquanto a China baniu as criptomoedas por completo, os EUA apresentaram o SAB 121, projeto de lei que proíbe que bancos tenham exposição a criptomoedas.
Já Campos Neto tem apresentado propostas muito ligadas àquelas introduzidas pelas criptomoedas. Afinal, o Drex é focado em tokenização e contratos inteligentes. Até mesmo o Pix, também introduzido em sua gestão, aparece como um dinheiro programável.
Nessa mesma apresentação, RCN aponta que o setor de DeFi (Finanças Descentralizadas) foram uma fonte de inspiração para a criação do Real Digital.
Banco Central do Brasil está acompanhando crescimento das stablecoins no país
Seguindo, Roberto Campos Neto também falou sobre o crescimento das stablecoins, principalmente em países emergentes como o Brasil. Em suma, o presidente do BCB acredita que isso seja um desejo da população em ter exposição ao dólar americano.
“Lembrando que o que tem crescido ultimamente não é criptomoeda, é stablecoin. O que cresce é stablecoin em dólar.”
“Eu acho que tem uma coisa, especialmente no mundo emergente, onde as stablecoins estão crescendo, que é um desejo de você ter conta em dólar de forma barata. Vejo que muita gente compra uma quantidade pequena de dólar, faz em stablecoin, porque é uma forma de fazer conta em dólar muito barata”, continuou Campos Neto.
Na Argentina, por exemplo, estudos apontam haver uma demanda maior por essas stablecoins do que outras criptomoedas. Isso porque elas oferecem uma proteção à hiperinflação sem a alta volatilidade do Bitcoin.
Embora os EUA ainda não tenham uma CBDC, stablecoins são emitidas por empresas privadas e encontradas em quaisquer corretoras de criptomoedas.
Hoje a Tether (USDT) possui um valor de mercado de US$ 119 bilhões (R$ 650 bilhões). Seu volume de negociação é maior que o volume somado das duas maiores criptomoedas do mercado, Bitcoin e Ethereum. Ou seja, o dólar continua sendo a maior unidade de conta do mundo.
A apresentação completa de Roberto Campos Neto na DAC 2024 pode ser assistida abaixo.