A China lançou propostas que sugerem uma iminente tentativa de controlar completamente o funcionamento do metaverso, um conceito emergente de mundos virtuais interconectados. As propostas, desenvolvidas pela gigante estatal de telecomunicações, China Mobile, miram na criação de um “Sistema de Identidade Digital” para usuários do metaverso.
O conceito de metaverso ganhou notoriedade e atenção devido à sua promessa de oferecer uma rede de mundos virtuais imersivos. Estes são impulsionados por tecnologias como realidade virtual e aumentada, e têm aplicações variadas, desde jogos até conferências e eventos ao vivo.
A gigante da tecnologia Meta, anteriormente conhecida como Facebook, tem se mostrado uma das principais defensoras dessa visão.
China quer controle absoluto sobre o Metaverso
As propostas da China têm detalhes preocupantes. Por exemplo, eles sugerem que o ID digital do usuário contenha informações pessoais detalhadas, como ocupação e “sinais identificáveis”.
Mais preocupante é a recomendação de que esses dados sejam compartilhados “permanentemente” com as autoridades para manter a ordem e a segurança nos mundos virtuais.
Um exemplo citado nas propostas destaca um usuário fictício chamado “Tom” que causa problemas no metaverso. Com o sistema proposto, Tom poderia ser rapidamente identificado e punido.
Embora isso possa parecer uma forma eficaz de lidar com comportamentos disruptivos, as implicações para a privacidade e liberdade dos usuários são profundas.
A China já tentou influenciar padrões globais anteriormente. Tais propostas fazem parte das discussões entre a China e a União Internacional de Telecomunicações (UIT), que é responsável por estabelecer regras para o funcionamento da tecnologia globalmente.
Essa tentativa de regulamentação está em sintonia com os esforços anteriores da China de promover uma versão da Internet mais controlada pelo estado, algo que já gerou alarmes no Ocidente.
Sistema de crédito social
Chris Kremidas-Courtney, de um think tank europeu, observa que as propostas chinesas têm semelhanças perturbadoras com o sistema de crédito social do país.
Este sistema, que avalia a confiabilidade dos cidadãos em vários domínios e pode restringir o acesso a serviços com base em comportamentos considerados inaceitáveis, tem sido amplamente criticado por sua natureza invasiva e punitiva.
O sistema de crédito social, proposto pela primeira vez em 2014, já foi implementado em várias formas por agências governamentais chinesas. As implicações de combinar tais sistemas com a vastidão do metaverso não devem ser subestimadas.
Um detalhe adicional a considerar é o papel da UIT. Como uma entidade da ONU, a UIT tem grande influência na definição das regras para infraestrutura tecnológica global.
Join us in Shanghai July 4-6 for our #metaverse focus group, followed by a forum on July 7 and be part of key pre-standardization effort.
With int'l #standards we can create global access to knowledge & tech for #metaverse to benefit everyone, everywhere.https://t.co/4IrlYExOjW pic.twitter.com/3XAiCu90zz— Int’l Telecommunication Union (@ITU) July 3, 2023
Já houve preocupações anteriores sobre a China tentar estabelecer padrões através da UIT, e a recente proposta sobre o metaverso intensifica esses temores.
Deve-se notar que a China não é a única interessada no potencial do metaverso. No entanto, a abordagem proposta reflete uma visão particular de governança e controle que pode não se alinhar com os valores de outras nações e empresas globais.
Courtney argumenta que a China está buscando se posicionar como líder no desenvolvimento do metaverso, uma visão que coincide com suas ambições digitais em outras áreas. Ele acrescenta que definir padrões é uma maneira eficaz de moldar o futuro da tecnologia.
Por fim, enquanto a China continua a pressionar por sua visão do metaverso e outros padrões globais, as empresas e governos ocidentais terão que decidir até que ponto estão dispostos a aceitar essa visão. O debate sobre o metaverso é apenas um exemplo das crescentes tensões geopolíticas na era digital.