Cobra, mantenedor do site Bitcoin.org, acredita que a comunidade do Bitcoin será dividida em breve. Em texto publicado no Twitter nesta semana, Cobra aponta para dois grupos, os “ossificacionistas” e os “melhoradores”.
Em termos mais simples, o primeiro grupo estaria mais preocupado com a segurança do Bitcoin, deixando seu código como está. Já o segundo estaria interessado em atualizações mais agressivas a fim de melhorar o protocolo.
Para quem já está no mercado há alguns anos, essa possível divisão lembra do fork que deu origem ao Bitcoin Cash (BCH) e tantos outros clones do BTC.
Algumas pessoas acreditam que os únicos pontos que interessam no Bitcoin são a sua escassez de suas 21 milhões de unidades e a segurança do seu código. Para outros, o Bitcoin é um ativo tecnológico e deveria competir com outras criptomoedas do setor.
Segundo Cobra, dono do site Bitcoin.org, isso causará uma nova divisão na comunidade.
“A próxima grande divisão na comunidade Bitcoin será entre ossificacionistas e melhoradores”, escreveu Cobra. “Mantemos o Bitcoin estável e seguro e não corremos riscos com mais soft forks, ou continuamos mexendo e fazendo mudanças para continuar melhorando o Bitcoin?”
O assunto obviamente chamou atenção tanto pela influência de Cobra quanto pela complexidade do tema. Um dos comentários em destaque é de Luke Dashjr, desenvolvedor do Bitcoin.
“A ossificação é um beco sem saída e simplesmente mataria o Bitcoin”, respondeu Dashjr. “A turma dos ‘blocos grandes’ já estão de volta e tentando o segundo round. Desta vez, aparentemente com suporte do Bitcoin Core. Essa é a preocupação imediata.”
No início desse ano, Dashjr já havia se envolvido em uma grande discussão sobre a chegada dos NFTs no Bitcoin. Contrário ao uso da rede para outros fins além de transações de BTC, o desenvolvedor propôs a criação de um “filtro de spam”, mas a ideia não ganhou tração.
Tal pensamento é até difícil de ser enquadrado em uma categoria. Afinal, Dashjr se mostra um purista ao ser averso a novos casos de uso, mas o Bitcoin precisaria passar por grandes mudanças para barrar NFTs.
Em resposta, Cobra respondeu que “o Bitcoin Core tem muita influência e precisa ser dividido em vários projetos”, notando que “desde o processo do CSW [Craig Steven Wright], o Core tem operado mais nos bastidores e as coisas parecem ser decididas e acordadas fora da supervisão e de maneiras que ninguém entende”.
Roger Ver, dono do site Bitcoin.com e uma das maiores vozes do Bitcoin Cash (BCH), recentemente lançou um livro intitulado “Hijacking Bitcoin: The Hidden History of BTC”, abordando a primeira grande divisão da rede pela visão de um defensor dos grandes blocos.
“Meu novo livro sobre o sequestro do Bitcoin já é o mais vendido na seção de economia na Amazon”, tuitou Ver, mostrando o interesse do público no assunto.
Ao que parece, Cobra foi um dos leitores. Afinal, o dono do Bitcoin.org levou sua visão de “separação da comunidade” para outros tuítes além do seu inicial.
“Não subestime o Roger”, respondeu Cobra a Adam Back, desenvolvedor que inspirou Satoshi Nakamoto a criar o Bitcoin e que desde o lançamento do livro acima está discutindo com Ver. “Seu livro está indo muito bem e ele está apresentando grandes ideias para toda uma nova geração de pessoas que não têm o contexto relevante. Será lido por pessoas importantes. Provavelmente já foi.”
Seguindo, Cobra também critica a centralização da Lightning Network. Embora cite que o fork do Bitcoin Cash foi político, com certos desenvolvedores querendo assumir o controle do código do Bitcoin, ele também se mostra um defensor de blocos maiores.
“Manter um limite de 4 MB para o resto da história humana não é o que mantém o Bitcoin descentralizado.”
Embora a opinião de Satoshi Nakamoto pouco importe atualmente, tudo indica que o criador do Bitcoin também seria a favor dessas mudanças. Em postagem de 2010, o desenvolvedor defendia que o limite dos blocos estava ligado a tecnologia da época e deveria evoluir no futuro.
“Embora eu não ache que o Bitcoin seja prático para micropagamentos menores no momento, eventualmente será, à medida que os custos de armazenamento e largura de banda continuarem caindo”, escreveu Nakamoto em 2010. “Se o Bitcoin se popularizar em grande escala, já poderá ser o caso nessa altura.”
“Qualquer que seja o tamanho dos micropagamentos necessários, eventualmente eles serão práticos. Acho que em 5 ou 10 anos a largura de banda e o armazenamento parecerão triviais.”
Por fim, é necessário lembrar que já existem diversos forks do Bitcoin que seguiram a chamada “visão de Satoshi”, mas nenhuma dessas criptomoedas conseguiu ganhar tração. Portanto, é possível que uma nova divisão na comunidade gere os mesmos resultados.
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