Com a migração do Ethereum de Proof-of-Work (PoW) para Proof-of-Stake (PoS), muitos apontaram que a rede ficaria mais centralizada a suscetível à censura. Os alertas não eram vazios. Segundo dados, 85% dos “construtores de blocos” estão censurando transações no Ethereum ligadas à lista da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC).
Dentre as transações censuradas estão aquelas com ligação com o Tornado Cash, um mixer descentralizado que funciona ao nível do protocolo. Sendo assim, aqueles que passarem essas transações estariam arriscando enfrentar processos judiciais.
Segundo o site Censorship.pics, existem 29 “construtores de blocos” no Ethereum e apenas 6 deles (20%) não estariam censurando transações. No entanto, apenas 5 desses 29 são responsáveis por 92,5% do trabalho.
Uma das exceções é o Titan Builder. Em seu site, há uma mensagem em destaque afirmando “nosso construtor é lucro máximo. Sem filtragem de qualquer tipo”. Ou seja, eles estão ganhando todas taxas de transações ignoradas por seus concorrentes.
Em conversa com a CoinDesk, Martin Köppelmann, co-fundador Gnosis, afirmou que a censura poderia ultrapassar os 90% se não fosse a Titan Builder. “Estamos essencialmente a apenas um construtor de uma censura bastante pesada no Ethereum”, comentou.
Ainda no mês de setembro, essa censura chegou a 85,1% por parte desses construtores de blocos. Há cerca de um ano, esse número era de apenas 20%, mas aumentou consideravelmente desde junho.
Em defesa dessas entidades que estão censurando transações, Toni Wahrstätter, pesquisador da Ethereum Foundation e criador do site censorship.pics, explica que construtores de blocos são pessoas normais.
“Os construtores de blocos também são pessoas como você e eu (que têm famílias, que podem querer se mudar para os EUA, etc.). É compreensível que eles tentem minimizar o risco para si próprios, tanto como indivíduos quanto para seus negócios.”
Até onde vai a censura do Ethereum?
Por ser uma rede descentralizada, basta que apenas uma entidade ignore as sanções americanas para que o Ethereum continue confirmando transações ligadas ao Tornado Cash e outras do tipo. No entanto, os dados acima deixam claro que a pressão do governo americano está funcionando.
Antes desses construtores, essas transações também passam por validadores e relayers. Como o nome sugere, o papel desses construtores está na montagem dos blocos, como se fosse um Lego de transações a fim de obter o máximo de lucro.
Afinal, as taxas de transação não são a melhor métrica, já que uma transação pode pagar uma taxa mais alta, mas estar ocupando o lugar de outras transações que somadas dariam um retorno maior naquele bloco.
Sobre a censura por parte dos validadores, que fazem stake validam os blocos, esse número é menor que 10%. No entanto, apenas 10% deles montam seus próprios blocos, removendo qualquer importância sobre o dado anterior.
Dentre os principais nomes nessa categoria estão corretoras, como Coinbase, Binance, KuCoin, Poloniex, Huobi, OKX e BitFinex, mas também outros nomes conhecidos, como Lido, Celsius e Stakefish.
Essas entidades são usadas por investidores que não tem Ethers o suficiente para serem validadores ou então por aqueles que apenas preferem a comidade. O nível de censura por cada uma delas varia, como visto abaixo. A lista segue com validadores menores.
Por fim, também temos os relayers, que transmitem transações entre os construtores e validadores. No fim de 2022, o nível de censura por esses relayers chegou a 77,8%, mas já está em um nível abaixo de 30%.
Esse número, no entanto, volta a preocupar quando vemos o baixo número de relayers. No momento existem apenas 8. Cinco deles controlam 97,6% da rede, podendo ser um alvo fácil para as autoridades americanas.
Bitcoin pode enfrentar problemas parecidos de censura
Embora use Proof-of-Work, tendo algumas diferenças em seu modelo, o Bitcoin pode enfrentar problemas semelhantes ao do Ethereum. Como exemplo, recentemente um pesquisador revelou que uma pool já está censurando transações de Bitcoin.
Segundo dados da Mining Pool Stats, três das maiores cinco maiores pools de Bitcoin são americanas. No total, Foundry, ViaBTC e Binance detém cerca de 48,2% do hash rate da rede. Ou seja, é possível que elas se adéquem às censuras da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC).
De qualquer forma, enquanto uma única pool não estiver censurando transações, essas censuras são irrelevantes. No máximo, essas transações precisarão pagar taxas mais altas e esperar por mais tempo para serem confirmadas.
Por fim, existem algumas soluções para mitigar esse risco, como é o caso do Stratum V2, um protocolo que dará mais controle aos mineradores na montagem dos blocos e que pools como a Ocean estão querendo adotar. Em outras palavras, os riscos de censura são praticamente nulos, mas o assunto é sempre bem-vindo.