Em entrevista ao Estadão, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, afirmou que não imprimirá dinheiro na economia brasileira agora. Na visão do BC, o momento é de esperar a economia reagir, adotando uma postura de observador.
O assunto ganhou notoriedade nas últimas semanas, quando até o ex-presidente Lula pediu uma maior intervenção na economia. De acordo com Lula, o momento de crise pede que o Banco Central imprima dinheiro.
Além disso, o ex-ministro da Fazenda de Lula, Henrique Meirelles, havia afirmado no início de abril que deveria haver uma expansão da base monetária. Contudo, o cenário defendido por alguns políticos, não faz sentido para Campos Neto hoje, que se afirma técnico.
O Estadão está produzindo um debate em seu canal do YouTube e contou com a presença de Roberto Campos Neto em um dos episódios. O presidente do BC conversou na última segunda (20) sobre o atual momento de crise com os jornalistas e expôs o que acredita ser o certo para a situação.
Em conversa com a economista do Estadão Zeina Latif, a jornalista Adriana Fernandes e o colunista Celso Ming, Campos Neto falou sobre o enfrentamento ao novo coronavírus. Para o presidente do BC, a crise de 2020 é diferente da vivida em 2008, com isso, o Banco Central está de olho em bancos pequenos e fintechs com atenção.
Além disso, Roberto Campos Neto afirmou que o BC irá manter a agenda de inovação, anteriormente prevista. Ou seja, o sistema PIX, que chega para concorrer com as criptomoedas, deverá ser lançado ainda em 2020.
Nós não queremos parar o preço dessa crise de voltar a ter um desincentivo para os pequenos, nós queremos incentivar mais os pequenos. Inclusive, só para terminar, a nossa parte de projetos de tecnologias vão seguir, o PIX vai ser feito esse ano, nós estamos seguindo com o Open Banking, […] então a gente não vai parar a nossa agenda de modernização e de competição
Contudo, ao ser questionado sobre a impressão de dinheiro, Campos Neto não se mostrou entusiasmado. Em certo momento, o colunista Celso Ming questionou sobre a impressão de dinheiro, que poderia acontecer neste momento.
A famosa frase despejar dinheiro de helicóptero é polêmica para alguns economistas que defendem o controle da inflação. A frase é atribuída ao economista americano Milton Friedman, considerado por alguns o “pai do neoliberalismo”.
Para Campos Neto, contudo, “um diagnóstico diferente leva você a tomar medidas diferentes“. Neste ponto, Roberto Campos Neto afirmou que cada país tem um menu de remédios, devendo ser analisado cada opção no devido momento.
Mais a resposta para você eu diria que não. Uma outra coisa que é super importante de entender é que nós entendemos que essa política tem mais eficiência quando você já atingiu o lower bound. Quando você acha que tem um juros que não tem mais potência para cair, você acha que precisa fazer um trabalho adicional e aí você faz um QE ou operação Twist, tem várias derivadas disso. Nós não entendemos que estamos neste momento hoje.
O presidente do Banco Central do Brasil frisou que entende que o momento ainda é de folga, e há espaço para novos cortes na taxa de juros antes de ter que imprimir dinheiro. Por fim, Campos Neto afirmou não tem ideia e tem dúvidas se essa medida poderia funcionar no Brasil, que é um país de economia emergente.
A dúvida pode ter acalmado alguns no mercado financeiro brasileiro, que se preocupam com a inflação. No ano de 2020, por exemplo, o Banco Central do Brasil apresentou o maior plano de liquidez da história. Para entusiastas do Bitcoin, um momento de alta inflação é sinal positivo para as criptomoedas se mostrarem como alternativa.
Em certo ponto, o colunista Celso Ming questionou Roberto Campos Neto sobre o câmbio. De acordo com Ming, alguns economistas têm pedido que o Banco Central do Brasil estabeleça um controle de capitais. Tais medidas seriam uma forma de intervir na alta do dólar, já cotado em R$ 5,32, com uma sequência de altas em 2020.
Para o presidente do BC, entretanto, não há nenhum projeto sendo pensado nessa linha de raciocínio. Campos Neto afirmou que “isso nem passa pela cabeça deles hoje“, e que a desvalorização do Real frente ao Dólar é um reflexo visto em vários mercados emergentes.
Não está no radar do Banco Central nada parecido, nem está sendo discutido e nem tão pouco nós concordamos com este tipo de medida
Confira na íntegra o papo do Estadão Live Talks com o presidente do Banco Central do Brasil, sobre dinheiro e economia:
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