O mês de setembro acabou na última semana e deixou um legado interessante. Isso porque, a poupança brasileira registrou um recorde na captação para o mês.
Desde a série histórica, iniciada em 1995, essa foi a primeira vez que a caderneta líquida captou mais de R$ 13 bilhões. O movimento mostra que os brasileiros estão receosos com os efeitos da pandemia, intensificando suas “reservas”.
Apesar da poupança ser comum no Brasil, ela vive um momento especial no ano. Com a captação recorde de janeiro a setembro, os brasileiros estão colocando seu dinheiro em um local perigoso.
Com a taxa Selic em sua mínima histórica, a poupança está levando os brasileiros a “perder dinheiro”.
Em fechamento do último mês, balanço da poupança registra recorde no período
A caderneta de poupança é um meio de guardar dinheiro em bancos brasileiros. Caso o depósito na instituição fique parado por 30 dias, um rendimento mínimo pode ser garantido, de 70% da taxa Selic mais a taxa referencial. Isso quando a Selic está abaixo de 8,5% sendo que a TR hoje está zerada.
A poupança é considerada um investimento tradicional no Brasil. Com a taxa Selic em 2%, renovada na última reunião do Copom, a poupança dá um rendimento de 1,4% ao ano.
Além disso, para clientes dessas instituições que detém menos de R$ 250 mil, o Fundo Garantidor de Crédito garante que o valor não seja perdido mesmo se o banco falir. Ou seja, a impressão é que a poupança é uma ótima reserva de valor no Brasil.
Dessa forma, o Banco Central do Brasil divulgou nesta terça-feira (6) o relatório da poupança para setembro. De acordo com o BC, o mês registrou o depósito de 294.015 bilhões de reais.
No período, houve a retirada de R$ 280.786 bilhões. Com isso, a captação líquida da poupança no mês foi de R$ 13.228.696 (bi). Desde o início de série histórica, em 1995, esse foi o maior valor para o mês de setembro.
Rentabilidade real da poupança é negativa no ano, na Argentina pessoas têm corrido para ativos alternativos
De acordo com a Reuters, em 2020, a poupança também registra um recorde na quantidade de depósitos. Ou seja, o ano tem sido de cautela para os brasileiros, que colocam mais recursos no popular investimento.
Contudo, mesmo a poupança sendo popular e estar em alta, seu rendimento de 1,4% ao ano perde para um outro componente: a inflação. Essa medida, que corrói o poder de compra do dinheiro e é medida principalmente pelo IPCA, tem como previsão fechar 2020 em 2,12%.
Dessa forma, quem mantiver seu dinheiro na poupança poderá ter um rendimento real de -0,72%. Essa perda de valor desconsidera ainda a depreciação cambial do Real, que é a moeda mais desvalorizada do mundo novamente.
A situação é tensa para os brasileiros, que aportam recursos em um investimento ruim, em plena pandemia. Com situação similar, a população da Argentina já busca ativos alternativos como reserva de valor.
Recentemente, um idoso aportou sua poupança de 75 anos em criptomoedas, por exemplo. Ao fugir do sistema financeiro tradicional, ele buscava segurança para seus recursos, que correm alto risco com a alta inflação e depreciação cambial na Argentina.