Fundado em 1985, há 168 anos, o jornal britânico The Telegraph possui uma coluna interessante na qual uma diretora de investimento faz comentários sobre o portfólio de seus leitores.
Na matéria desta quarta-feira (14), Victoria Scholar, diretora de investimentos da Interactive Investor, analisou o portfólio de um casal que investiu tudo em Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH).
Sendo mais preciso, são 900 mil libras esterlinas em BTC e 194 mil libras esterlinas em ETH. As quantias são equivalentes a R$ 5,6 milhões e R$ 1,2 milhão, respectivamente.
Dado que o jornal é antigo e conservador, a analista ficou chocada ao ver o portfólio acima. Além de não ter diversificação, como geralmente acontece, o casal de professores possui 61 e 57 anos, não sendo de uma geração tão ligada à tecnologia.
“Seu portfólio, composto apenas de Bitcoin, Ether e dinheiro, causaria um ataque cardíaco à maioria dos consultores financeiros”, comentou Victoria já no primeiro parágrafo. “Para mim, parece uma bomba-relógio.”
Casal de professores investe apenas em Bitcoin e Ethereum, causando espanto em diretora de investimentos
Quando falamos em professores e criptomoedas no Brasil, é fácil lembrar de Jorge Stolfi, professor da Unicamp que afirmou que o Bitcoin “arrancará milhões de vidas humanas”. No entanto, um casal de professores britânicos optou por uma abordagem totalmente contrária, apostando tudo em Bitcoin e Ethereum.
Em mensagem enviada ao jornal The Telegraph, o casal pede que uma diretora de investimentos analise o seu portfólio.
“Cara Victoria, aqui está meu portfólio, eu estaria interessado em sua opinião. Somos um casal — professor aposentado, de 61 anos, e professora ainda ativa, de 57 anos, com dois filhos adultos e independentes. Temos um salário líquido de £ 48.000 (R$ 300.000) por ano.”
Na sequência aparece uma tabela mostrando os investimentos do casal. £ 900.000 (R$ 5,6 milhões) em Bitcoin e £ 194.000 (R$ 1,2 milhão) em Ethereum. Como destaque, é mencionado que os ativos estão em ‘cold storage’, ou seja, sem conexão com a internet. Portanto, um ótimo sinal de que eles estudaram boas práticas de segurança.
Victoria Scholar, que trabalha no mercado financeiro há mais de uma década, mostrou-se surpresa com o perfil do casal. Embora tenha reconhecido a alta de 150% do Bitcoin em 2023, recomendou que os professores vendessem tudo.
“Felizmente, o salto das criptomoedas deste ano significa que agora não é um mau momento para vender seu Bitcoin e Ether, para que você possa construir um portfólio seguro, resiliente e sensato.”
“Você não precisa voltar muito atrás nos gráficos para ver que os ganhos podem ser rapidamente eliminados nesta classe de ativos notoriamente errática”, continuou a diretora de investimentos. “Considere a queda de 2022 como um lembrete de quando o Bitcoin terminou o ano valendo cerca de 1/4 [do que valia em janeiro].”
Como quase todo consultor financeiro conservador, Victoria então sugere que o casal aloque 40% de seu capital em ações e outros 40% em títulos. Nada foi dito sobre os 20% restantes, podendo ser uma sugestão oculta de que o casal deva manter parte de suas criptomoedas ou então uma reserva em libra esterlina.
“Com uma alocação de cerca de 40%, poderia investir em alguns fundos de ações principais que abrangem as principais economias de investimento do mundo”, comentou a analista Victoria Scholar após recomendar a venda dos bitcoins e ethers do casal. “Eu pensaria então numa alocação de cerca de 40% para títulos.”
Explicando sua recomendação, a diretora de investimentos aponta que o Banco Central da Inglaterra pode estar prestes a iniciar cortes nas taxas de juros, o que poderia aumentar os dividendos dos títulos.
Embora Victoria não cite isso, vale lembrar que ativos de riscos também podem decolar com a queda dos juros, o que é esperado por especialistas como Arthur Hayes. Portanto, é possível que o casal de professores esteja com o portfólio perfeito para 2024.
Bitcoin está se tornando uma reserva de valor cada vez mais confiável
Alguns investidores como Warren Buffett não gostam do Bitcoin, dentre outros motivos, porque ele não paga dividendos. No entanto, outros investidores acreditam que a escassez matemática do Bitcoin seja suficiente para a criptomoeda continuar valorizando ao longo do tempo.
Embora ainda volátil no curto prazo, o Bitcoin já foi reconhecido como uma reserva de valor até mesmo por um recente estudo realizado pelo Banco Central Europeu. Já gestoras como a Fidelity, que estão tentando emplacar o primeiro ETF à vista de Bitcoin nos EUA, acreditam que o BTC deva estar presente em planos de aposentadoria.
Ainda que a estratégia do casal de professores seja ousada, com 100% de seu portfólio em Bitcoin e Ethereum, é possível que eles estejam à frente do mercado. Ou seja, poderão aproveitar uma ótima aposentadoria caso as criptomoedas entrem em um novo superciclo.