Apesar de o Ethereum ter usado Proof-of-Work (PoW) desde 2015, tudo mudou na madrugada desta quinta-feira (15) com a chegada do The Merge. Após 7 anos de PoW, agora o Ethereum está rodando em Proof-of-Stake (PoS) com a atualização chamada Paris.
O evento abre novos caminhos para o desenvolvimento futuro do Ethereum. Como destaque podemos citar o EIP-4844 (Sharding) que promete escalar a rede para 100.000 transações por segundo em 2023.
Mesmo levando todo seu ecossistema consigo em seu novo modelo, agora o Ethereum precisará se provar seguro novamente, tanto em relação a seu próprio código quanto a ataques externos, como censura estatal.
Mineração com placas de vídeo deixará saudade
Dentre as principais diferenças entre o Bitcoin e o Ethereum estão os seus ritmos de desenvolvimento. Enquanto o Bitcoin é cauteloso, o Ethereum é lembrado por grandes mudanças, como a ativação do EIP-1559.
Curiosamente, o oposto aconteceu no campo da mineração. Enquanto o Bitcoin deixou a indústria livre para buscar o máximo de eficácia, chegando até as ASICs, o Ethereum limitou-se a banir tais equipamentos, permitindo que apenas placas de vídeo fossem usadas na mineração.
Conforme GPUs são encontrados facilmente em qualquer lugar do mundo, sua mineração tornou-se a mais descentralizada possível, melhor que a do próprio Bitcoin.
Sendo assim, o abandono do Proof-of-Work pelo Ethereum deixará mais que saudade, mas também uma lacuna. Afinal, o próximo maior projeto que utiliza placas de vídeo é o inexpressivo Ethereum Classic (ETC).
The Merge traz o Proof-of-Stake ao Ethereum
Introduzido em 2012 por Sunny King através da Peercoin (PPC), o Proof-of-Stake (PoS) rapidamente chamou a atenção de toda indústria, incluindo Vitalik Buterin. Sendo assim, vale lembrar que o Ethereum já queria utilizar tal modelo antes mesmo de seu lançamento, em 2015.
“O Proof-of-Stake continua sendo uma das discussões mais controversas no espaço das criptomoedas”, escreveu Vitalik Buterin no blog do Ethereum em 2014. “Embora a ideia tenha muitos benefícios inegáveis, incluindo eficiência, uma margem de segurança maior e imunidade a problemas de centralização de hardware, os algoritmos de Proof-of-Stake tendem a ser substancialmente mais complexos do que as alternativas baseadas em Proof-of-Work.”
“Há uma grande quantidade de ceticismo de que o Proof-of-Stake pode funcionar.”
Cautelosa, a equipe de desenvolvedores do Ethereum acabou optando pelo que já estava provado, o Proof-of-Work do Bitcoin, usando este modelo por mais de 7 anos até a chegada do The Merge nesta quinta-feira.
Durante este período, diversas criptomoedas surgiram e optaram pelo Proof-of-Stake, mostrando confiança no mesmo. Embora a Peercoin (PPC) tenha desaparecido, outras como Cardano (ADA) e Solana (SOL) aparecem entre as maiores do mercado e já foram chamadas de “matadoras do Ethereum”.
Ainda que estas tenham resolvido problemas passados do PoS, isso não significa que o Ethereum não terá trabalho pela frente. Como exemplo, o risco de censura na rede é uma das maiores preocupações atuais.
O que muda com o The Merge?
Com a saída dos mineradores, agora são os validadores quem receberão as recompensas dos novos blocos da rede. Sendo assim, receberá mais “dividendos” quem tiver mais ETH em stake (trancados), ou seja, aqueles que possuem mais interesse no sucesso do projeto.
Ainda sobre a questão monetária, outra grande mudança será a redução destas recompensas. No total, tal redução será de 90% e também é está sendo chamada de “halving triplo”, uma referência aos halvings do Bitcoin, que reduzem a recompensa pela metade a cada ~4 anos.
Portanto, holders de Ethereum sofrerão menos com a inflação da moeda devido aos dois pontos acima. Além disso, é possível que as taxas queimadas façam tal emissão ser negativa, transformando-a em uma “moeda ultra-sonante”.
Embora já existam propostas semelhantes, como as queimas de BNB, o Ethereum está ganhando muito apelo financeiro de imediato com o The Merge.
Escalabilidade do Ethereum não irá melhorar, ao menos por enquanto
Por fim, vale lembrar que o Ethereum não melhorará sua escalabilidade de imediato. Ou seja, continuará com grandes filas e altas taxas de transações mesmo com a chegada do The Merge.
Entretanto, isso abre caminho para a implementação do EIP-4844 (Shard Blob Transactions), programada para 2023. Tal proposta de melhoria promete escalar o Ethereum para até 100.000 transações por segundo (TPS). No momento, este número é de apenas ~15 TPS.
Por último, a migração do Ethereum para Proof-of-Stake nesta quinta-feira é a maior atualização de sua história e segundo o próprio Vitalik Buterin, ela ainda não está precificada em tanto em termos de mercado, quanto também em termos psicológicos e narrativos.