Oito anos. Esse é o tempo que os credores do Grupo Bitcoin Banco, de Curitiba (PR), precisam esperar para recuperar o investimento feito nas empresas do conglomerado.
É o que diz o plano de recuperação judicial protocolado na segunda-feira (30) pelo grupo, que é controlado pelo empresário Claudio Oliveira, conhecido como “rei do bitcoin”.
“O objetivo deste plano é permitir que o GBB restabeleça seus postos de trabalho, geração, renda e tributos. Tais ações proporcionarão as condições necessárias para a reestruturação das atividades e, consequentemente, a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor (…)”, diz trecho do documento.
A apresentação do plano é só mais uma etapa do processo de recuperação judicial do Bitcoin Banco, aceito pela Justiça do Paraná em dezembro. Juntas, as empresas do conglomerado devem cerca de meio bilhão a quase 6,5 mil investidores.
Pagamento será feito em 84 vezes
De acordo com o plano, ao qual a reportagem do Livecoins teve acesso, os credores “pessoa física” vão receber apenas 0,1 bitcoins (um décimo do valor da criptomoeda) em até três meses após data da homologação do processamento da recuperação judicial.
Se o investidor tiver valor superior a 0,1 bitcoins, precisará respeitar uma carência de um ano para começar a receber o restante do que tem direito. Após aguardar esse período de 12 meses, começará então a receber o saldo, que será diluído em parcelas que só devem terminar em 2027.
“Determinado o saldo do credor, se houver, será pago em até 84 parcelas mensais após a data da homologação judicial do PRJ. As parcelas de 1 a 24 serão correspondentes a 20% do saldo remanescente e as parcelas de 25 a 84 serão correspondentes a 80% do saldo remanescente”, diz o plano.
O valor será corrigido pela TR (Taxa Referencial), acrescida de 1% de juros ao ano. A TR é a taxa de juros de referência no Brasil e serve como indicador da economia.
No caso das microempresas e empresas de pequeno porte, as regras são um pouco diferentes. Elas vão receber 0,33 de bitcoins em até 30 dias após a data da homologação judicial do plano. O eventual saldo será pago, então, ao longo de 26 meses.
Plano não cita pagamento de lucro feito na “arbitragem infinita”
O plano de recuperação não aborda a questão do pagamento dos lucros feitos pelos investidores nas plataformas de negociação de criptomoedas do grupo. Antes da crise da empresa, alguns clientes conseguiam fazer lucros surreais de até 1.000% em três meses, por meio do que ficou conhecido como arbitragem infinita.
Questionado sobre a questão do pagamento desses rendimentos em uma entrevista no mês passado, Oliveira falou que o caso de cada investidor seria analisado de forma individual durante o processo de recuperação. Isso porque, falou na época, alguns usuários podem ter se aproveitado de uma suposta brecha no sistema para duplicar ou mesmo triplicar lucros.
Esse plano de recuperação “piramidal” é brilhante, diz investidor
A divulgação do plano repercutiu em grupos de conversa. Muitos não gostaram da sugestão da empresa, reação que era mais do que esperada, visto que alguns deles fizeram empréstimos, usaram grana de poupança e até venderam casas e apartamentos porque acreditaram nas promessas feitas por Oliveira.
“Esses planos de recuperação piramidal são brilhantes. Golpista diz que vai pagar a perder de vista, a Justiça acha bonito, os clientes acham bonito. Daí o cara abre outra pirâmide dentro da primeira pra pagar os trocados a perder de vista. Gênio. Kkkk”, disse um deles.
“Estão aproveitando a atual situação e vulnerabilidade das pessoas para tentar aprovar essa proposta”, disse outro.
“Caramba, não sei como dorme. Esse (Claudio Oliveira) tenho certeza que Deus, no grande dia, não deixa passar impune. Aproveite o melhor dessa terra senhor Claudio, porque acho difícil Deus ter misericórdia de sua vida, o que você fez foi desumano”, escreveu outro.
Histórico do Grupo Bitcoin Banco
A crise do Grupo Bitcoin Banco, fundado por Claudio Oliveira, começou em maio do ano passado. Naquele mês, a empresa informou que foi vítima de um suposto golpe de clientes, que teriam se aproveitado de uma brecha nos sistemas das exchanges para supostamente fazer saques duplos. O prejuízo teria sido de R$ 50 milhões.
Desde aquela época, a Polícia Militar do Paraná cumpriu diversos mandados de busca e apreensão na sede da empresa e nos imóveis de Oliveira. Ele teve teve o passaporte retido pela Justiça e os bens bloqueados.
Além das ações polícias, a sede do grupo também foi palco de manifestações de investidores da capital paranaense e de outras cidades e estados, inclusive Mato Grosso e Pará.
No final de 2019, a Justiça do Paraná aceitou pedido de recuperação judicial feito pelo grupo. A medida é um meio jurídico utilizado para reorganizar as finanças e evitar falência.