Líderes da Genbit, empresa investigada por prática de pirâmide financeira, enviaram cartas de próprio punho para a Justiça. Nelas, eles afirmam que “não tiveram prejuízo material” com o negócio.
Os documentos, que a reportagem do Livecoins teve acesso, foram anexados à ação civil pública que o Ministério Público de São Paulo abriu para investigar o suposto esquema fraudulento.
Em uma pirâmide financeira, líderes são os responsáveis por atrair outras pessoas para investir dinheiro. Como consequência disso, eles ganham uma porcentagem em cima de cada indicação.
Religioso que ostentava em avião enviou carta
No total, 120 cartas de próprio punho foram encaminhadas à Justiça.
Uma delas foi assinada por Elifelete Marcondes, ex-ancião da Congregação Cristã no Brasil. O religioso, que costumava ostentar em um avião adquirido com dinheiro de investidores, era embaixador internacional da suposta pirâmide.
O cargo de embaixador internacional é o penúltimo que um líder pode chegar. Para alcançar esse nível, é preciso convencer milhares de pessoas a investir dinheiro.
Além disso, os embaixadores precisam ter CNPJ, escritório próprio, secretária, inglês fluente e ter no mínimo 12 equipes disponíveis, encabeçadas por outros líderes.
“Voluntário” da GenBit também enviou carta à Justiça
O trader Fabio Pradella, que se identifica como cliente e “voluntário” da Genbit, também assinou carta afirmando que não teve prejuízo com o negócio.
Pradella, que já fez viagens internacionais a convite do presidente da Genbit, Nivaldo Gonzaga, tem atuado como “porta-voz” da empresa em grupos de conversa.
Junto com outras pessoas ligadas ao suposto negócio fraudulento – investigado por dar um golpe de quase R$ 1 bilhão em 45 mil pessoas – ele tenta fomentar o uso TPK (Treep Token), a criptomoeda sem valor que a Genbit obrigou seus clientes a aceitar.
Suposto líder diz que não teve prejuízo, mas havia afirmado ao Livecoins o contrário
Assim como Pradella, o suposto líder da Genbit Ricardo Strapasson também enviou carta para a Justiça afirmando que não teve nenhum prejuízo.
O que Strapasson escreveu, no entanto, é contraditório. Isso porque em maio deste ano, ele encaminhou uma nota à reportagem do Livecoins afirmando justamente o oposto.
Na nota, que pode ser lida na íntegra na matéria “GenBit muda nome de sua moeda fictícia, tenta encobrir passado e cria nova suposta pirâmide”, Strapasson disse que “não recebeu seus valores e está tentando resgatar assim como os demais”.
Coach que chorava para convencer investidores também mandou carta
Outro líder da Genbit que enviou carta foi o coach Robson Martins. Conforme o Livecoins reportou em março, Robson também era embaixador da suposta pirâmide financeira.
Para convencer pessoas a investir no negócio, ele costumava chorar nas apresentações. Um dos investidores lesados pela Genbit falou ao Livecoins que Martins dizia que a suposta pirâmide financeira “tinha vida útil de mais de 100 anos” e que as pessoas poderiam “largar tudo para se dedicar 100% à empresa”.
Quem indica pirâmide também pode ser punido pela Justiça?
No Brasil, pirâmide financeira é proibida e configura crime contra a economia popular, conforme a Lei nº 1.521.
De acordo com o Artigo 2º da legislação, “obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos” é crime.
Em casos anteriores envolvendo pirâmides financeiras, a Justiça reconheceu a culpa de quem aliciou novos integrantes.
O Juízo da Vara Única da Comarca do Bujari, no Acre, por exemplo, condenou um divulgador da Telexfree – pirâmide financeira de telefonia via internet – a pagar R$ 9,3 mil para um vítima que ele atraiu para o negócio fraudulento.
Confira o histórico da GenBit:
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